Rivalidade fraterna

Fernando era de família de classe média, engenheiro, bem empregado. Seu irmão mais velho, Gustavo, administrador de empresas, exercia função administrativa. Gustavo casara-se e, nove meses depois, Fernando seguiu o mesmo caminho.

Os dois irmãos sempre foram rivais, desde a disputa pelo carinho do pai ou a dedicação da mãe. Fernando queixava-se com frequência de que não era o favorito, nem do pai e muito menos, da mãe. Gustavo queixava-se de que Fernando sempre havia sido tratado com mais generosidade pela vida. Como engenheiro, ele ganhava mais do que Gustavo, apesar de ser mais jovem. A competição entre os dois era visível e preocupava o pai, mais do que a mãe.

Para os que eram mais próximos da família, os dois haviam feito casamentos aos sobressaltos, um tanto oportunistas. Parecia que estavam apostando corrida para ver quem subia primeiro ao altar. Nesse caso, seguiu-se a cronologia e o mais velho casou-se primeiro.

O pai, quando jantava apenas com a esposa, já a alertava de que logo, logo, haveria uma separação na família. A mãe não levava essas conjecturas muito a sério, mas se mostrava pensativa. Para o pai, uma separação poderia ter como consequência, um afastamento ainda maior entre os dois irmãos. Um afastamento talvez irreversível.

Não demorou muito e a cronologia foi novamente seguida: Gustavo anunciou que seu casamento, após um ano e alguns meses, havia terminado. Não tratou dos pormenores, mas anunciou a decisão com naturalidade, como se já fosse esperada. E era mesmo. A esposa de Gustavo foi morar com uma amiga com quem mantinha um relacionamento há anos, do qual se queria libertar sem, contudo, conseguir. Para os de fora, a esposa aceitou morar com uma amiga até se recompor para dar continuidade à sua vida.

Fernando mostrou-se solidário ao irmão, mas não convenceu ninguém. Interiormente estava celebrando mais uma derrota do irmão-rival que perdera a esposa não para um homem, mas para uma mulher. Que vitória, essa, a dele! Ria-se internamente a valer!

Poucos meses depois, a esposa de Fernando anunciou que o deixaria. Estava insatisfeita com o relacionamento e achava que tudo havia sido um grande erro. Fernando também não estava feliz com a relação, aproveitou a oportunidade para fazer crer que, mesmo com brigas e contratempos, era solidário ao irmão e que, agora, se encontrava na mesma situação dele. Haviam se casado praticamente juntos e se separariam também praticamente juntos. Irmãos podem fazer as coisas juntos: pela solidariedade ou pela rivalidade.

Para a mãe, o erro estava corrigido, mas para o pai, outros erros ainda estavam por vir. O que Fernando não imaginava é que sua ex-esposa estava se divertindo bastante em braços especiais. Do seu irmão, Gustavo. E agora, como reagir a essa corneada fraterna?

No primeiro encontro dos dois irmãos, Fernando mostrou-se muito amável com Gustavo, a causar certo desconforto. Na frente do pai, cochichando para a mãe não ouvir, Fernando abraçou Gustavo e agradeceu por lhe ter levado a mulher que ele já não mais suportava. Gustavo havia feito um grande favor ao irmão Fernando. O pai só fez o sinal da cruz!