VIDA DE ESCRITOR.

As minhas histórias, na grande maioria, são utopias, escrevo assim por opção, é claro que, muitos escritores seguem outra linha de raciocínio. Personagens complexos psicologicamente, enredos igualmente complicados e cheio de trincheiras e acontecimentos que amarram a trama. Não os critico por fazê-lo assim, até admiro, e acho belíssimo, mas vivemos em um mundo difícil, onde já não está sendo possível sonhar. Daí a minha inclinação utópica, de que, pelo menos nas minhas histórias, imaginar certas situações ( onde tudo ocorre quase que perfeitamente ), é minha válvula de escape desse mundo terrível, já tentei mudar, mas confesso que não consigo, na verdade eu não quero.

As vezes me sinto como Balzac, querendo escrever desvairadamente, grandes histórias, a própria comédia humana.

As vezes me sinto como Nicolai Gogol, tenho vontade de rasgar toda minha obra em um acesso de loucura e raiva, e jogar tudo no fogo.

As vezes me sinto como Fernando Pessoa, tendo dentro de mim muitas personalidades diferentes, heterônimos ocultos dentro de mim, um para cada texto.

As vezes sou simplista como Rubem Braga, e quero trabalhar na quietude de uma crônica, como esta por exemplo.

As vezes me sinto como João Ubaldo, apenas um romancista trabalhando a seu tempo.

As vezes me sinto como Júlio Verne, com uma mente científica e enigmática em obras magníficas e intrigantes.

As vezes me sinto obscuro e genial como Edgar Alan Poe. E me sinto escrevendo o corvo, ou histórias semelhantes.

As vezes, é como se pode perceber por essa narrativa, que na verdade, eu não sei quem sou querendo ser todos.

Tenho dentro de mim incontáveis universos, fico escutando as vozes de meus personagens o tempo todo dentro da minha cabeça. Eles gritam, narram, querem ganhar vida no papel, eu os controlo, eles se descontrolam, pelo menos os tenho em certa 'possível' ordem dentro de mim. Enquanto eu, vivo em meu próprio descontrole emocional.

Afinal… Qual o artista é de fato um ser humano normal?

Hoje estou em um desses dias complexos, a correr no limiar da loucura. Quero escrever tudo, a própria alma humana, e nada ao mesmo tempo. Talvez essa seja uma falha tentativa de me encontrar, pois me sinto perdido, confuso, solitário; dizem que todo artista aprendeu e ainda aprende suas grandes lições com a solidão. Será mesmo verdade?

O meu coração é defeituoso, eu sei que é, precisa. urgentemente de reparos. O meu coração, bate desconsolado na caixa do peito, busca desesperadamente outro coração na mesma sintonia e frequência. Onde estará esse coração? Por favor, me diga você, caríssimo leitor, seja sincero, poderia dizer-me onde estará esse coração?

Estará perto?

Estará distante?

Estará presente?

Estará ausente?

São perguntas que tenho medo de responder.

Afinal, esse medo, essa insegurança, tomou conta da minha alma, das minhas decisões, de tudo enfim. É um fantasma de longas datas.

Hoje, impressionei-me ao ver a tua imagem, o teu olhar brilhante, o teu sorriso encantador, os lábios tão bem desenhados. Imagino uma vez mais, e como poeta ingênuo talvez, sim, eu imagino, o sabor adocicado do teu beijo, o toque suave das tuas mãos, a voz como canção aos ouvidos. Imagino sim, em uma realidade completamente irrealizável, um mundo paralelo que só os escritores conhecem, e como eu disse anteriormente, são reflexos distorcidos de meus muitos universos.

Obrigado por me ouvir beija-flor - aquele mesmo de outrora - sei que mesmo distante, sei que mesmo ausente neste momento, o lume de teu olhar na imaginação, e o sorrir diante desses teus lábios, acalenta minha dor nas palavras desta crônica.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 20/10/2019
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