FORTE ITAIPU, MINHAS ORIGENS

Todos teem origens. Essa é parte das minhas origens.

FORTE ITAIPU, MINHAS ORIGENS

Meus bisavós maternas chegaram ao Porto de Santos por volta de 1893. Fortunato e Adelaide Taffi, vieram de Osimo, Ancona, Itália. Devem ter embarcado em Genova, que era o porto de saída dos imigrantes do norte da Itália. Após uma dura viagem de quase 400km, muitas vezes percorridos a pé, de Ancona a Genova, arregimentados por inescrupulosos agentes contratados por agências de viagem que prometiam maravilhas para os imigrantes, a viagem na terceira classe dos navios de imigração não tinha conforto nenhum e podia durar até quarenta dias. Foi nessas condições que Vó Delaide, como eu a chamava, pariu minha tia Anita em plena viagem. Chegados a Santos foram encaminhados para a lavoura em Casa Branca, SP, onde nasceu minha avó Margarida em 1900. Nas suas palavras. – “Alla Casa Bianca avevo Nenê.”

Fortunato foi trabalhar em Ribeirão Preto, que onde a cultura do café era o grande negócio. Ribeirão pertencera ao território de São Simão, pequena cidade hoje com quinze mil habitantes, e se emancipara em 1856. Meses depois, Adelaide e suas filhas mudaram para Ribeirão. Fortunato, na realidade era pedreiro de acabamento e tão logo soube da construção do Forte Itaipu, foi trabalhar na obra. Morreu em consequência de uma queda de andaime. Vó Delaide permaneceu morando no Forte, com suas duas filhas. Anita se apaixonou e casou com João, o Tio Joãozinho. Joãozinho era um mulato de olho verdes e minha tia Anita viveu apaixonada por ele a vida inteira. Geraram vários filhos e netos, todos muito bonitos, morenos de olhos claros. Lembro com saudades de meus primos e primas e das festas que faziam nos aniversários.

Margarida, por sua vez, namorou e casou com um jovem eletricista, funcionário civil do Exército, que trabalhou a vida toda na manutenção das instalações do Forte Itaipu, meu avô Henrique. Henrique nascera em Saquarema, RJ, de uma família humilde e saíra de casa com seis anos de idade. De cidade em cidade, cresceu prestando serviços de todos os tipos para sobreviver. Morou no Rio de Janeiro e dali para São Paulo. Após se tornar um torcedor apaixonado pelo Corinthians, foi trabalhar nas obras do Forte. Só reviu sua mãe quinze anos após ter saído. Henrique era um homem criado no mundo, dono de uma coragem enorme, nada o amedrontava. Escutei várias estórias de meu avô. Na noite que anunciaram o término da Segunda Guerra, subiu até a Segunda Bateria a pé, e, sozinho, acendeu os holofotes do Forte, iluminando a noite da Baixada Santista. Ressalte-se que o local era bastante aterrador, cheio de lendas e estórias de fantasmas, soldados mortos e maus espíritos. Além de ser, na época, povoado por animais como cobras, macacos, e até onça haviam visto por lá. Certa ocasião, apareceu uma cobra na varanda de casa, e, sob uma gritaria das mulheres, meu avô expulsou a intrusa batendo com o chinelo e dizendo; - “Sai daqui sua boba, você pode morrer.”. Presenciei essa cena.

Meus avós geraram dois filhos: minha mãe Zeny e meu tio Leonel. Em 1933 um cabo, transferido do Rio Grande do Sul, chegou ao Forte. Era Ambrósio Miorim Netto, meu pai. Gaúcho de Alegrete, havia fugido do Seminário em Santa Maria e, com quinze anos, se apresentou como voluntário no Exército. Havia rasurado sua data de nascimento para ser aceito. Foi cabo metralhador na Revolução de 1932 e, terminado o conflito, transferiu-se para a Fortaleza de Itaipu. Meus bisavós paternos migraram de San Giovani e Carsarsa Della Delizia, província de Pordenone, próximo de Treviso e Udine. Embarcaram em Genova também. Parece que resolveram vir em um grande grupo de sobrenome Miorin, venderam tudo que tinham e partiram para a América, como chamavam o Brasil. Foram para o Rio Grande do Sul e formaram uma grande descendência, à qual pertencia meu avô Francisco, pai do meu pai. Quis o destino que essas pessoas convergissem para a Praia Grande e cruzassem suas vidas na Fortaleza de Itaipu, onde eu e meus irmãos gozamos de uma infância maravilhosa.

Paulo Miorim 18/10/2019

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 18/10/2019
Reeditado em 21/06/2020
Código do texto: T6773178
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