Água da chuva
Água da chuva.
O vento carregava algo como uma folha seca. Ou um papel de bala, pipoca, ou coisa parecida.
O Colégio José Bonifácio, tomava conta da paisagem de frente. No escuro, casais abraçados para se aquecerem do frio castigador.
Fixei os olhos numa pequena poça d’água formada pela constante chuva fina do último dia de inverno de 1986.
Não havia, neste cenário, nada mais digno de ser observado que a pequena poça d’água, que refletia as luzes dos postes da pracinha.
O frio, acompanhado de um vento cortante, era causador da gripe que já atacara a maior parte dos alunos, naqueles dias.
Até aquele momento, eu já espirrara, várias vezes, quebrando o silêncio ao meu redor e chamando, involuntariamente a atenção de todos sobre mim; outra causa de desconforto.
A chuva fria, intermitente, molhava-me o rosto e cabelos. Em meu íntimo, xinguei o ônibus que iria passar, por estar atrasado, e o que havia passado, por estar adiantado demais.
Finalmente, depois de 15 eternos minutos, surgiu o esperado transporte, com o tradicional letreiro, indicando meu bairro.
Logo que, do ônibus não se ouvia o barulho do motor, o Colégio, ficando abandonado na noite fria, proferiu um lamento, provocando um relâmpago, seguido de intenso trovão.
Lá, na calçada, o vento soprava sua canção, arrastando as folhas secas do sombreiro, algum papel de bala, saco de pipoca, ou coisa parecida.
(escrita na aula de literatura, 1a.Série do 2o. Grau em 1986)