DIA DAS CRIANÇAS

Nesse feriado, fui ver partidas de tênis profissional feminino no Clube Helvetia.

– O senhor pode por o nome e RG aqui, por favor? – Claro, mas antes de entrar quero tomar um café, nesse restaurante com aspecto suíço tem? – Sim, claro.

Cheguei às quadras, o placar marcava: 1º set Alves 3×0 Campos. Que sorte. Chego e pego no início o jogo da cabeça de chave nº 1. Um bom set para ela. Por mais que Campos tentasse, variasse e corresse, nos pontos importantes, a Nanda fechava as portas – 6×0. No 2º set, quando estava novamente 3×0, fui dar uma volta e ver outros jogos. Vi a portuguesa Bárbara Luz na quadra quatro e, às vezes, ao golpear a bola, ela dava uns gemidos altos, não muito altos: “Aaaaaahhhh”. Para ser franco, achei sensual. Vi também a argentina Zeballos despachando uma boliviana e uma tenista romena. Havia um banco colocado estrategicamente debaixo de umas árvores de onde se podia ver as seis quadras de saibro do clube. As pessoas passavam no caminho em frente. As quadras um e dois do lado direito, as quadras três e quatro do lado esquerdo, as outras duas tinha-se que virar a cabeça para trás e à esquerda para vê-las. Atrás, à direita, uma tenda montada para a fisioterapia das tenistas.

11

Baixo Augusta, Praça Plínio Marcos, Jogos de Tênis e outras Crônicas

Próximo à quadra um, sentadas em cadeiras, um grupo de três tenistas que disputavam o torneio, e o João. O nome de uma delas é Bogarin. Lembro bem porque adorava ler contos e crônicas do Azevedo, em que ele citava uma flor chamada bogari. Se bem que esta moça tinha rosto de lírio… Loira, maçãs do rosto anguladas, nariz espevitado.

– Que horas são, por favor? – perguntei-lhe.

– Uma e quinze da tarde.

– Obrigado.

– Imagina.

Ao lado de Liz, da carioca Ana Clara Duarte e de Duda Piai, que ouvia o Borguetinho e a Nona de Beethoven, estavam um técnico, a mulher dele, e o João com a cara pintada com o desenho daquele super-herói americano que sobe nas paredes. João não parava, corria na grama, pulava, pegava a raquete pequena, ia para cá, para lá, parou quase em frente a mim, olhando para a árvore atrás.

– E aí, Homem Aranha, vai subir na árvore…

“Eu, Homem Aranha...”, pensou.

Olhei para a árvore e vimos que não dava, seus galhos estavam carregados de frutos enfileirados, ainda verdes.

– Sabe o que é João?

– Sei, jabuticabas.

– Acertou, mas estão verdes.

Instantes depois, João voltou com a raquete e uma jabuticaba cor de vinho nas mãos, provavelmente única entre milhares do pé.

– Você conseguiu e olha que ainda estamos no mês de outubro...

– Mês de outubro... – disse João.

– Sim, lá por novembro, dezembro elas estarão maduras…

12

M. A. Silvente Pessoa

– É, esta está ainda um pouco dura.

– Então, use-a para treinar tênis.

– Mas como...?

– Pegue a raquete e fique fazendo “embaixadinhas” com ela no aro, igual ao Federer. Como ele não entendeu muito bem, fui demonstrar:

– Empreste a raquete aqui...

Fiz apenas uma, João parece não ter gostado da “demonstração”. Acabou a brincadeira. As tenistas estavam vendo. Foi patético. Campos, Louise chegou triste. Escapou por um da bicicleta, foi consolada pelas outras tenistas, apenas com um cumprimento de mãos, igual se faz nas duplas. Depois apareceu a Nanda Alves com a irmã, ficaram ali próximas, tirando fotos. Parecia um pouco o manézinho. Chegou também o Cid.

– Ei, você está em todas!

– E o Tsuchiya?

– Jogou com o Júlio Silva, perdeu mas jogou bem.

– Legal.

– Valeu, vou cumprimentar a Nanda, tchau.

Marcos Pessoa
Enviado por Marcos Pessoa em 17/10/2019
Código do texto: T6772247
Classificação de conteúdo: seguro