Os Fícus de Pilar
Antes de nascer, eles já existiam; serviram de lugar, na frente da minha casa, onde meu pai prometeu colocar o meu nome, caso a minha primeira irmã Marilene tivesse um irmão e que assim nascesse, durante a visita do missionário Frei Damião de Bolzano. Parece ter sido a minha primeira obediência ao meu Pai Inácio que, “depois de dois dias do nascimento, levou o filho Damião a Frei Damião para abençoá-lo”. Ainda, hoje, morando em Pilar, a professora Severina Batista testemunha esses acontecimentos, depoimento que o Prefeito José Benício de Araújo Neto me presenteou, nesse último 15 de outubro, Dia do Professor, no vídeo “Homenagem ao Pilarense Patrono da XXI Semana Cultural José Lins do Rego – 2019”.
Como animais de grande porte, essas árvores crescem, mas essas de Pilar são “domesticadas” pela tesoura dos artistas jardineiros que as conservam nas velhas características como as que lá estão: de médio porte, de copas arredondas, e na altura suficiente para que deem sombra a um bom bate-papo, depois do jantar, e, com a ajuda de suave brisa, cercadas de tamboretes, e se tornem circunstanciais, porém costumeiros auditórios, onde o meu avô, o velho Ramos, pontificava sempre coordenando concursos de mentira e estórias, sob a admiração de José Augusto de Brito. Em algumas outras cidades, esses fícus são domados pela tesoura a tomarem forma de bichos, de rinoceronte e até de elefante. Meses atrás, vi uma cortada na forma de ema, gemendo, como aquela cantada pelo centenário filho de Alagoa Grande, Jackson do Pandeiro. Os fícus não reclamam as formas que lhes derem, em troca apenas de bom trato: terra e água. Outras árvores, como o jenipapeiro ou a barriguda, não se entregam a metamorfoses para virarem dinossauros, cavalos, bois ou borboletas, humildemente como se comportam os fícus.
Ninguém ama mais do que eu esses fícus desfilando na rua da minha infância, desde a minha primeira vista, a partir dos meus primeiros passos ou talvez até quando fui planejado. Simplesmente um só tipo de árvore, plantada logo após o meio-fio da calçada, embeleza tanto a cidade como os bem cuidados jardins de Versailles. E logo em Pilar, cuja história, para mim supera a da colonial Ouro Preto. É pequena, mas não como outras que se infiltram em outras grandes ou pequenas cidades, como se fossem ruas umas das outras. O Município se orgulha de ser a terceira cidade mais antiga da Paraíba, fruto único do latifúndio vindo de então, onde, além disso, a cana de açúcar domina vastas terras. Como se verifica, o filho sabe mais coisas da terra mãe do que mãe do filho, tudo alimentado pela doce memória.
Os fícus de Pilar, que poderiam ser gigantes, gozam atualmente de vetustas idades, contudo não se amarguram por terem se tornado baixos, ora como guarda-chuvas, ora como guarda-sóis, ou apenas como enfeites da cidade, e talvez também como abrigo de ninhos das pequenas aves da região: pintassilgo, patativa golada ou caboclinho; servindo sua sombra como sala a tamboretes como se fossem régias poltronas. Não foi um dia desses, aqueles fícus já viveram demais e viverão mais do que todos nós, enquanto formarem um colar dessa bela idosa mulher: Pilar, cidade, em 1859, visitada pelo Imperador Dom Pedro II. Como muitos reis e imperadores, ele não usou microfone, como se usa atualmente, mas deve ter falado, a contento, aos que foram à Cerimônia do Beija-mão e subiram os íngremes degraus do sobrado, patrimônio que hoje acolhe a Fundação José Lins do Rego, destacado filho da cidade e orgulho literário da Paraíba, assim como o divulga a professora e atriz pilarense Zezita Matos. Escrevendo outro dia sobre essa minha terra natal, lembrei-me que Pilar se identifica pela Igreja que se confronta com o antigo prédio que foi cadeia; pelo famoso Rio Paraíba que corre paralelamente à rua central; por tais fícus, robustos, de saúde invejável, sem precisarem subir ladeiras, alegrando de verde o espaço mais plano e visível da cidade. Recordo ainda que, com as folhas desses fícus, o irmão do meu pai, tio Didi, fazia apitos que soavam como o sibilo agudo do assobio.
Antes de nascer, eles já existiam; serviram de lugar, na frente da minha casa, onde meu pai prometeu colocar o meu nome, caso a minha primeira irmã Marilene tivesse um irmão e que assim nascesse, durante a visita do missionário Frei Damião de Bolzano. Parece ter sido a minha primeira obediência ao meu Pai Inácio que, “depois de dois dias do nascimento, levou o filho Damião a Frei Damião para abençoá-lo”. Ainda, hoje, morando em Pilar, a professora Severina Batista testemunha esses acontecimentos, depoimento que o Prefeito José Benício de Araújo Neto me presenteou, nesse último 15 de outubro, Dia do Professor, no vídeo “Homenagem ao Pilarense Patrono da XXI Semana Cultural José Lins do Rego – 2019”.
Como animais de grande porte, essas árvores crescem, mas essas de Pilar são “domesticadas” pela tesoura dos artistas jardineiros que as conservam nas velhas características como as que lá estão: de médio porte, de copas arredondas, e na altura suficiente para que deem sombra a um bom bate-papo, depois do jantar, e, com a ajuda de suave brisa, cercadas de tamboretes, e se tornem circunstanciais, porém costumeiros auditórios, onde o meu avô, o velho Ramos, pontificava sempre coordenando concursos de mentira e estórias, sob a admiração de José Augusto de Brito. Em algumas outras cidades, esses fícus são domados pela tesoura a tomarem forma de bichos, de rinoceronte e até de elefante. Meses atrás, vi uma cortada na forma de ema, gemendo, como aquela cantada pelo centenário filho de Alagoa Grande, Jackson do Pandeiro. Os fícus não reclamam as formas que lhes derem, em troca apenas de bom trato: terra e água. Outras árvores, como o jenipapeiro ou a barriguda, não se entregam a metamorfoses para virarem dinossauros, cavalos, bois ou borboletas, humildemente como se comportam os fícus.
Ninguém ama mais do que eu esses fícus desfilando na rua da minha infância, desde a minha primeira vista, a partir dos meus primeiros passos ou talvez até quando fui planejado. Simplesmente um só tipo de árvore, plantada logo após o meio-fio da calçada, embeleza tanto a cidade como os bem cuidados jardins de Versailles. E logo em Pilar, cuja história, para mim supera a da colonial Ouro Preto. É pequena, mas não como outras que se infiltram em outras grandes ou pequenas cidades, como se fossem ruas umas das outras. O Município se orgulha de ser a terceira cidade mais antiga da Paraíba, fruto único do latifúndio vindo de então, onde, além disso, a cana de açúcar domina vastas terras. Como se verifica, o filho sabe mais coisas da terra mãe do que mãe do filho, tudo alimentado pela doce memória.
Os fícus de Pilar, que poderiam ser gigantes, gozam atualmente de vetustas idades, contudo não se amarguram por terem se tornado baixos, ora como guarda-chuvas, ora como guarda-sóis, ou apenas como enfeites da cidade, e talvez também como abrigo de ninhos das pequenas aves da região: pintassilgo, patativa golada ou caboclinho; servindo sua sombra como sala a tamboretes como se fossem régias poltronas. Não foi um dia desses, aqueles fícus já viveram demais e viverão mais do que todos nós, enquanto formarem um colar dessa bela idosa mulher: Pilar, cidade, em 1859, visitada pelo Imperador Dom Pedro II. Como muitos reis e imperadores, ele não usou microfone, como se usa atualmente, mas deve ter falado, a contento, aos que foram à Cerimônia do Beija-mão e subiram os íngremes degraus do sobrado, patrimônio que hoje acolhe a Fundação José Lins do Rego, destacado filho da cidade e orgulho literário da Paraíba, assim como o divulga a professora e atriz pilarense Zezita Matos. Escrevendo outro dia sobre essa minha terra natal, lembrei-me que Pilar se identifica pela Igreja que se confronta com o antigo prédio que foi cadeia; pelo famoso Rio Paraíba que corre paralelamente à rua central; por tais fícus, robustos, de saúde invejável, sem precisarem subir ladeiras, alegrando de verde o espaço mais plano e visível da cidade. Recordo ainda que, com as folhas desses fícus, o irmão do meu pai, tio Didi, fazia apitos que soavam como o sibilo agudo do assobio.