Transição
É o fim da nossa estação, a neblina que costurava nossos corpos também se despede, seu sussurro ensurdecedor ecoa cada vez mais longe, meus olhos não queimam mais nas chamas do teu sol que adormece.
Não pronuncio teu nome, mas te vejo nos espaços do tempo, como em uma pintura fresca sem assinatura.
Éramos pedras sendo lapidadas, enquanto a areia escorria marcando a hora do fim, e mesmo assim eu ainda enxergo seus olhos estreitos que no fundo expõe o meu desejo. As grades sempre estiveram abertas para os teus voos, mas as sombras das tuas asas me seguiram até agora. Talvez seja eu quem deveria flutuar e lembrar que atrás dos muros há muitas paisagens. O meu coração errôneo teima em se ancorar nas tuas mãos gélidas, quebrando minhas promessas. Não há lamentos por esse longo inverno, mas quem me dera só por hoje nevar como naqueles dias.