Um acidente!
Entre terminar minha leitura e descer para comprar um porta sabonete líquido, decidi pela segunda opção. Assim, cumpro meu ritual: desço as escadas, abro a porta e saio em direção ao supermercado. Faço a compra e saio. Antes de atravessar a rua, percebo um movimento do outro lado. Um acidente!
Rapidamente a rua se enche de curiosos. Pessoas sussurrando, falando, reclamando, gritando... Outros pediam ajuda, alguns estampavam desespero em suas faces. O sangue descia rumo à
sarjeta, assim como o lixo que outros já haviam jogado por ali. Alguns rapazes insensíveis tiravam fotos do senhor no chão. Provavelmente ele estaria em segundos depois rodando pelas redes sociais da
vida. Naquele momento não aparece nem uma rede para levá-lo ao hospital.
Fiquei meio impressionado com tanta informação. Pessoas, fotos, sangue, rua, acidente, comprar porta-sabonete líquido, voltar para casa. Voltei a mim mesmo e segui. Esse voltar veio acompanhado de uma inquietação: lembrei-me do “se”, do “se” condicional. Eu poderia não ter visto tudo aquilo “se decidisse ficar em casa e não sair para ir ao supermercado”. Por outro lado, “se o senhor que morreu ali tivesse feito uma parada em algum lugar antes dali, tivesse ficado em casa ou
alguém o atrasasse ele não teria morrido”. Da mesma forma, “se o motorista do veículo tivesse também se atrasado de alguma forma, prestado mais atenção ao dirigir ou mesmo o pneu tivesse furado durante a viagem antes do acidente, não teria acontecido tudo aquilo”.
Esses acontecimentos banais nos fazem pensar em quão imprevisível é a vida. Quando nos vemos em situações embaraçosas, a primeira palavra que vem à cabeça é o “se”. “Se eu tivesse ou não feito de outra forma isso não teria acontecido...”
Como será que está a família dele? Porque a última coisa que se espera quando algum ente querido sai de casa é que ele volte morto. Enfim, fico pensando que até mesmo a família dele pense em algum “se” quando souber da notícia.