Um devaneio
Aqueles olhos graúdos e assustados, a boca entreaberta, lábios bem desenhados e cabelos pretos, como gostaria de viajar pela noite desses cabelos. Eu ficava olhando de longe e me perguntando se devia ou não falar, chegar mais perto, quem sabe poderíamos nos dar bem.
Eu ficava no meu mundo sem saber o que fazer. Confesso que aquela
imagem não parava de vagar nos meus pensamentos mais profundos, se é que existe um pensamento mais profundo que outro. Permanecia ali, no mesmo lugar, inerte, os olhos grandes continuavam a olhar para o nada, como se estivesse congelado no tempo, o corpo também estava parado.
Quem era? De onde vinha? O que fazia? Aonde iria? Quais eram seus anseios, medos, seus sonhos? Por que eu tinha me prendido a um olhar morto e vivo ao mesmo tempo, lindo e assustador, atraente, magnético? Não entendia toda aquela toda aquela situação e me açoitava com interrogações e sofria e voltava ao açoite e não entendia e sofria...
De repente o toc toc da porta da minha vida me traz de volta a outro pensamento: preciso dormir! Amanhã acordo cedo para trabalhar!