Hoje comi fruta com meus filhos

Era um dia comum. A diferença é que não havia escola. Recesso de carnaval. O um velho hábito de dar frutas no meio da manhã para as crianças foi reativado. Em dias assim, eles comeriam vendo TV enquanto no corre-corre eu me agitaria entre a pia, a arrumação da casa e o fogão.

Mas resolvi jogar tudo pra cima. Sentei-me com eles na cadeirinha que mal suporta meu peso. Aquela mesinha infantil, aquele momento singelo, sem requinte e sem a preocupação em tirar fotografia...

Foi encantador. Falamos de coisas simples, não houve lição de moral, nem cobrança, nem repreensão por derramar coisas, por mastigar com a boca aberta.

A certa altura trocamos leves carícias, cada qual ao seu modo. Segurei as lágrimas que teimavam em saltar. Não queria tirar nenhuma espontaneidade.

Houve silêncio, espaços de incrível sentimento. Ali, naqueles intervalos de não palavra, passaram-se, reunidos, a minha infância e a de meus pequenos. Me reportei à minha casinha na roça, quando comíamos e guardávamos segredos, sem que o silêncio nos incomodasse.

Agora era a vez de meus filhos. O que eles pensavam ali? O que sentiam? Não preciso saber. Isso seguirá com eles.

O que seguirá comigo é a certeza de que hoje tive um momento mágico, tão simples, tão fugaz como brincadeira de criança. Fez-me novo, redivivo, redimido de minhas falhas de pai, de minha desatenção com eles em muitos momentos.

No final, viramos o pratinho na boca, como eu fazia quando criança. Só que não escondido: agora eu podia, eles podiam, porque a doçura de viver é maior que a regra.

José Carlos Freire
Enviado por José Carlos Freire em 16/10/2019
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