Em Bonsucesso
Morei em Bonsucesso, bairro do RJ. 1978. Um prédio na Rua Luiz Ferreira com Guilherme Maxwel (creio que esteja correto este nome).
Recordo do “Português”, um conhecido. Tinha na linguagem aquele estilo carioca, de gírias. Era “sangue bom”. Se estiver vivo, não deve ter mudado, creio.
Residia próximo.
Ao me ver, dizia: “E aí, do Belém”? Sempre estava de bom humor.
Eu: “Tudo bem, Português”. Após tanto tempo, não sei o nome de batismo dele, o Português. Nem ele chegou a saber o meu. Me chamava assim, “do Belém”. Só.
Isso me descontraía, gostava.
Outro amigo, o Chumbinho. Cidadão de cor. Também nunca soube o nome dele, de batismo. Só “Chumbinho”. também não soube o meu. Gostava de usar sapato branco.
Chegava comigo - e a saudação dele era: ------ E aí, "cumpade"?
Algumas vezes ia à Nova Holanda, favela perigosa, área vermelha. Tomava cerveja, voltava para casa.
Conheci ainda o “Joãozinho Trinta”. Não o da Beija-Flor, a escola de samba. Este faleceu, era maranhense.
O de Bonsucesso era um baixinho, cabeça grande, era pernambucano, se não me engano. Se está vivo não sei – faz um bom tempo não o vejo.
Era compositor. Bem, ao menos ele compôs um samba. Assim: “Lhe dei todo o meu carinho, mas você não soube aproveitar, agora chora arrependida, me pedindo pra voltar. Pode chorar, pode sofrer, agora é tarde pra você se arrepender”.
Tinha outros parceiros, Rubinho, Walter, Macarrão. Mulheres também faziam parte do grupo, a Nancy, Nazaré, Claudinha, Leninha, Silvinha - e outras.
Não mais vi esses colegas – e outros tantos, lá de Bonsucesso. Tive de regressar para Belém - e não mais retornei à cidade, RJ.
Por vezes ocorre isso: o passado vem a mim. Ou, não sei bem, eu volto ao passado.
Me faz bem isso, o passado. Certamente.