A salvação do monjolo.
Um herói salva nosso monjolo.
- O rio já está bufando, é capaz que carregue o açude e estrague ou leve embora o nosso monjolo!
- Meu Deus, mundaréu de água. Mas o que se há de fazer?
Ficou aquele silêncio. Ele encasquetava um plano. Acendeu com um pequeno tição o inseparável palheiro e preparou-se para tomar o mate, que a esposa já lhe alcançava.
Deu algumas tragadas e disse: - Se chover a noite inteira, amanhã cedo desço com o laço!
- Mas o que você vai inventar home? Não vê o perigo?
- Não, mas Nosso Senhor e São José vão me ajudar, não podemos perder o monjolo. Vai me dar um serviço brabo, mas refazer um monjolo inteiro leva muito mais tempo.
E aconteceu que choveu o que deu a noite e o começo do dia. Meu pai desceu para o açude do monjolo, com seu laço e amarrou uma ponta na cintura, mediu a distância que iria precisar. Amarrou a outra ponta em uma grande guaviroveira, na beira do rio. Tirou a camisa, ainda tinha o vigor físico dos roceiros mais velhos. (Estamos entre 1971 a 1973, não mais que isso. Deve ter já seus 60 anos. Lembro que a mãe dizia que ele era de 1912. Já a mãe, era de 32, portanto 20 anos mais jovem que ele, tendo ela se casado com 13 anos e ele com 33). Apenas dobrou a barra das calças e descalço, foi entrando no rio. O leito do rio era fundo, mas a parte onde ele iria trabalhar, reforçando com mais pedras o açude ou simplesmente recolocando aquelas que a água já havia derrubado, era uma parte mais rasa, onde em dias normais e secos, corria apenas o suficiente de agua para alimentar o monjolo. Uma verdadeira valeta de pedras. Aconteceu que as pedras estavam lisas demais, e eram pesadas demais. A água estava forte demais. E também o pai não tinha mais a força e destreza de seus trintanos.
O esforço foi umas três ou quatro vezes a mais que o planejado. Por várias vezes meu pai caiu e em algumas demorava demais para voltar á tona. Mas, teimoso e consciente do valor daquela empreitada, não desistiu, até que concluiu que o açude, agora, resistiria a mais algumas chuvas.
Mas o resultado disso foi que saiu tremendo de frio de dentro d’água. As pernas demonstravam escoriações e algumas luxações feias, já bem inchadas. Mas nunca o vi reclamar. Chegou em casa trocou sua roupa ensopada e minha mãe lhe fez um remédio milagroso: Fervida! A fervida era um chá de casca de laranja, fervida junto com cachaça e um pouco de água. No outro dia ele estava inteiro e contente com o trabalho de Hércules realizado. O monjolo estava salvo.
Pra ser bem sincero, não consigo afirmar com segurança se eu assisti a estas cenas, ou me foram contadas pela mãe. Ás vezes, vem uma lembrança, um desespero de o ver caindo e levantando no meio daquele turbilhão de água revolta. Ás vezes parece que foi um sonho.
Por esses dias, eu tinha de 4 a 6 anos.
- E não foi assim, meu pai??