PORQUE O DIFERENTE DÁ MEDO?

Diariamente e desde quando eu era uma criança que adorava correr entre as árvores, de banhar no igarapé que passava no fundo da minha casa, que conversava com bem-te-vi e minha sobremesa preferida era a manga de fiapo roubada da vizinha... ouvia de meus familiares, de conhecidos e desconhecidos que sou “diferente”... afinal o que é ser diferente?

Na minha infância acreditei que ser diferente era um “dom”, todos se admiravam que menina sabida... nem parece que é tão diferente das outras... desconhecendo o era exclusão, cresci feliz e sem medo como a maioria das crianças da roça, correndo no meio de plantações e parando rapidinho para tirar gravetos que entravam em meus pés, me ferindo com ponta de anzol durante uma pescaria ruim, batendo a testa num pé de murici ou de caju...

Foi assim, vivendo livremente na roça, que aprendi a ter autonomia e mobilidade, que aprendi a reconhecer uma infinidade de sons a longa distância, que aprendi a criar mapas mentais a conhecer pessoas somente pelo movimento do corpo, que aprendi a sentir as pessoas, a conhecer sentimentos alheios, foi onde aprendi ser mágica!

Um dia recebi um conselho que ser diferente mais cedo ou mais tarde assusta e dá medo em algumas pessoas e que por elas terem medo mim iriam me machucar e muito. Confesso que nunca entendi, porque o diferente dá medo? Porque o “diferente” vive situações de exclusão, dependência e solidão?

Na verdade, nunca acreditei nisso. Afinal, sempre gostei de ser diferente! Hoje percebo, que esta crença minha é um recurso de autoproteção contra inúmeros preconceitos e exclusões que vivenciei e vivencio diariamente, mas, atualmente, este recurso anda tão fraquinho que tenho medo que ele não resista por muito tempo, me ajude a romper com o pensamento de que o mundo é somente para algumas pessoas, porque, pensar assim, é cruel, é acreditar que o preconceito é algo natural sendo que na verdade não é. Me ajude porque, não consigo vencer sozinha o preconceito e a exclusão!

Vamos pensar que nenhuma pessoa e nenhuma sociedade é racista, homofóbica, machista, violenta, intolerante, preconceituosa e excludente “naturalmente”. Essas são características adquiridas historicamente e socialmente, se aprendemos a ser excludentes e preconceituosos, podemos aprender a pensar de forma inclusiva, democrática e solidária e dessa forma podemos sim, criar uma nova concepção de sociedade onde, as pessoas não serão violentadas fisicamente e psicologicamente em razão da sua cor de pele, do seu gênero, da sua identidade sexual, da sua condição social, física e biológica.

Sonho ainda, viver um dia sem preconceito, sem exclusão, sem violência! Sonho correr livremente, tendo apenas, o cuidado de não entrar gravetos nos meus pés!

Zeneide Cordeiro
Enviado por Zeneide Cordeiro em 14/10/2019
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