OÁSIS

OÁSIS

O bom malandro é esperto, tão esperto que nem liga para o fato de que malandragem demais atrapalha. E deixem que digam, que pensem, que falem, ele vai continuar com aquela cara da paisagem assim como quem não quer nada, não viu nada, não sabe de nada, e a jurar por uma pseudo imaculada candura que se bobear o levará a uma vaga para canonização já que pra muitos além de um santo homem ele é também indubitavelmente um homem santo. O bom malandro é esperto, sabe a hora certa de fazer caras e bocas, é bom de papo reto e mestre nos papos oblíquos e paralelos. Seu maior feito não é absolutamente nada do que ele diz que fez. Seu feito maior é dominar a nobre arte da malandragem e seu poder de convencimento é imenso, penetra nas mentes cegas e vazias de gente simples e de gente com inteligência acima da média. O bom malandro exerce ilegalmente seu poderoso talento nas artes cênicas e mergulha tão profundamente no seu personagem que nem mesmo ele sabe mais quem é quem. Ele não sai do personagem e o personagem não sai mais dele. Ele ofende, xinga, grita, chora, faz beicinho, clama por justiça, ofende autoridades. É uma atuação digna de um Oscar de melhor ator de todos os tempos passados, presente, futuros e dos que ainda nem foram sequer inventados. E quando o pano subir para o eventual próximo ato uma platéia sedenta dirá que ele é um oásis que só os que sabem das dores do povo entendem, ou que ele é um Moisés que irá abrir o mar vermelho para a passagem da caravana. Para muitos o bom malandro é o cara!

AC De Paula #poetaacdepaula