YUCUMÃ - Uma visão inusitada
Num certo feriado, tive oportunidade de conhecer o que há depois daqueles montes à beira daquele rio! Destino, roteiro e pontos de interesse programados. Horários nem tanto! Decididos pela Serra do Mar, seguimos os contrafortes até os Campos de Cima do além Mafra sentindo agradáveis aromas das araucárias com suas pinhas que ao longo do extenso planalto deixam o belo mais verde e o verde mais singelo! Tão perto, embora tão distante do cotidiano de quem vive no litoral, o Planalto Serrano nos eleva aos puros ares de um horizonte límpido e ensolarado. Subindo mais, chegamos ao extremo norte colado às bordas paranaenses. Quase girando, descemos ao sul cruzando o coração das “Terras Santas de Catarina”. A noite chega e estamos nas margens do majestoso Rio Uruguai que segue manso pelas incontáveis curvas grandes por onde desliza até a Bacia do Prata entre o sul do Uruguai e o nordeste Argentino. Enfim, um hotel em São Carlos. Aguas prá lá de termais com propriedades medicinais! Arrisco um trocadilho homenageando duas limítrofes cidades oestenses. É uma Maravilha que deixa Saudades. Mas, deixamos para trás São Carlos e seguimos pelo caminho das pedras! Pedras únicas de Ametista do Sul do noroeste gaúcho. Lá, vemos algo incomum e singular. Uma mina desativada e dentro dela um restaurante! Além da boa comida, um notável vinho! Digno de nota, também é o local onde mesas revestidas de uma miríade de multicoloridas pedras encantam os olhos e a alma. Um brinde! Mais vinho por favor! Cabernet, Agatha de Fogo! É um espetáculo vê-los inseridos nas inúmeras caves perfuradas nas paredes da mina! Belvedere Mina tem o único restaurante temático em pedras ametista do mundo. De pedras a pedrinhas, deixamos para trás Ametista até onde o Sol é poente para visitarmos o que é de todo desconhecido da imensa maioria que nessas terras vive. Salto do Yucumã! Dentro do Parque Estadual do Turvo nas gaúchas terras de Derrubadas, outra visão é particularmente inusitada! Escondido entre pedras e mata cerrada, ele reina absoluto por quase dois quilômetros longitudinais numa única queda. Enquanto os olhos procuram adaptar-se ao esplêndido panorama, bandos de exóticas borboletas vem carinhosamente aspirar do sódio que exala de nossos poros. Incrível e inesquecível sensação! Yucumã que no lado de lá em terras castelhanas chamam de Moconá, é na língua Guarani “o que tudo engole”, tamanha a turbulência causada pela pressão da água que entra na garganta com cento e dez metros de profundidade. Escondidos pela água estão os degraus que formam as quedas que, originalmente, despencavam de vinte metros. Assim como desapareceu Sete Quedas em Guaíra no Paraná devido a Itaipu, Yucumã respira fundo para vez ou outra submergir e emergir em queda livre com quatro a oito metros de quinta-feira a domingo graças aos esforços de pessoas abnegadas que atuam em defesa do turismo riograndense. Talvez um olhar furtivo a sobrevoar o complexo não seja suficiente para dar resposta a uma, até então, improvável obviedade. Como seria possível o rio dividir-se em duas torrentes, uma delas calma, bela e singela, e outra furiosa, perigosa e mortal? Geólogos interpretam que foi obra da natureza em fúria a depressão pós-erupção profunda seguida da acomodação do magma que mal preencheu a fenda de forma irregular. Esta fenda-cânion suga o rio à montante, dando à jusante uma vazão extremamente veloz e caudalosa canal adentro, enquanto segue suavemente a boreste o maior volume para despencar em efeito dominó formando a maior cachoeira horizontal do planeta. Embora estivéssemos de posse da solução do enigma ao caminhar sobre as pedras que pouco antes acomodaram o leito do rio, e ouvirmos o som rouco que faz água e pedra, tivemos a impressão de uma vez mais saber que pouco ou nada sabemos. E foi sorte grande observá-la com apenas quatro metros em queda ante os caprichos da natureza e da Usina Hidroelétrica de Foz do Chapecó. Jajôêchá pevê, porã Yucumã!