O convite que não veio
Rosângela Trajano
Mamãe escolheu o seu melhor vestido de manhã cedo. Deixou-o em cima da cama. O presente que tinha comprado dias antes, também estava em cima da cama. Sem saber direito o que ela estava aprontando, perguntei meio curiosa
- Para onde a senhora vai hoje?
- Para o aniversário da minha melhor amiga.
- Vai ter festa?
- Claro que sim! Todos os anos tem!
- E a senhora foi convidada?
Mamãe demorou para responder-me. Abaixou a cabeça e meio tristonha disse que não. Porém, sabia que o convite viria a qualquer momento. Foi preparar o seu feijão para almoçar toda feliz porque era o dia do aniversário da sua melhor amiga, e queria muito abraçá-la e desejar-lhe felicidades.
O dia foi passando e nada do convite chegar. Mamãe foi desanimando ao passar das horas. A amiga que ela tanto admira e respeita parecia ter a esquecido ou talvez não tivesse festa naquele ano, afinal as coisas estão muito caras. No início da noite, mamãe tomou um banho longo e se perfumou toda.
- Para onde a senhora vai, mamãe?
- Para a festa da minha amiga.
- Que festa?
- Ela vai me chamar a qualquer momento.
Mamãe sentou-se na cadeira de balanço da nossa varanda e ficou conversando comigo sobre as suas histórias enquanto esperava o convite chegar. Deu vinte horas, vinte e uma, vinte e duas, e nada do convite. Mamãe acabou cochilando na cadeira. No celular, vi a amiga dela comemorando o aniversário em uma grande festa. Fiquei triste. Ela esqueceu de mamãe. Achei melhor nem mostrar-lhe as fotos e deixar para o dia seguinte. Acordei-a e levei-a para a rede no seu quarto.
- Que horas são, Rosângela?
- Onze horas.
- Vixe! Dormi tudo isso? Perdi a festa!
- Melhor ir dormir, mamãe.
- Amanhã levo o presente da minha amiga, se Deus quiser.
Vestiu a sua camisola de oncinha e foi deitar-se. Em alguns minutos já estava roncando. Eu não sabia como explicaria para ela no dia seguinte que a sua melhor amiga fez uma grande festa, mas não a convidou. Eu não sabia como dizer...