UMA VISITA MUITO ESPECIAL
Um domingo, ela veio almoçar em minha casa, junto com mais alguns amigos, e trouxe-me de presente um lindo cachepô, pintado por ela, e dentro dele um vaso pequeno contendo lírios da paz.
Gosto muito de receber flores plantadas, e não em ramalhetes, pois, assim tenho a oportunidade de cuidar delas e vê-las florescerem por um bom tempo. E com os lírios não foi diferente, eles foram crescendo e pedindo vasos maiores. Atualmente estão plantados em um vaso imenso, onde se exibem com mais de uma dúzia de flores.
Bom, mas não foi para falar dos lírios que ganhei, que comecei a escrever essas linhas, e, sim, para contar sobre quem me presenteou com eles: Dona Sara, uma senhora, que hoje está com 90 anos. Muito lúcida, inteligente, fluente em cinco idiomas, e com uma rica bagagem de vida.
Ter a oportunidade de conversar com Dona Sara, equivale a uma aula de história muito bem dada, por alguém que viveu em cinco países diferentes, e sobreviveu ao horror do nazismo.
Muito embora, tenham perdido seu pai, mãe, e o único irmão, exterminados em um campo de concentração, Dona Sara, não tem uma alma amarga, muito pelo contrário, é grata a Deus (como Judia fervorosa que é) por toda proteção que teve, e por ter sobrevivido, ao inferno do holocausto.
Sempre que tenho o previlégio de poder ouvir essa Senhora contar os horrores que vivenciou, as tristezas, pelas quais passou, a fome, o frio, o medo, e ver a beleza dos sentimentos que ela escolheu guardar em sua alma, noto claramente que estou diante de alguém, não só inteligente intelectualmente falando, mas principalmente de um ser humano que optou por escolher o lado bom da vida.
Em uma de nossas conversas, perguntei à ela, se conseguiu de alguma maneira perdoar Hitler, pela dor que ele causou em sua vida. E fiquei boquiaberta com a resposta que ela me deu.
Disse-me ela: "Faz muito tempo que perdoei, porque entendi, que se guardasse ódio, em meu coração, eu não seria muito melhor que ele. E sei que sou."
Dona Sara, é das pessoas com quem gosto demais de conversar, aprendo muito com ela. É dona de uma cultura invejável, uma tarde com ela resulta em uma aula de história, sempre que tenho a oportunidade de ouví-la, vejo o quanto estou distante de sua lucidez, inteligência e bondade.
O grau de resiliência que existe nessa mulher, é algo magnífico. Todo sofrimento pelo qual passou, as perdas dos entes amados de forma tão vil, já seria o suficiente para amargurar alguém pelo resto da vida. Mas, não a Dona Sara.
Assim que a Segunda Grande Guerra acabou, ela foi viver um tempo na França na casa de amigos, depois morou por um ano no Chile. Em seguida, foi estudar nos Estados Unidos, onde casou-se e viveu por muitos anos, até ficar viúva.
Em segunda núpcias, casou-se com um brasileiro, e desde então reside no Brasil.
Adaptou-se a todos os lugares em que viveu, fora da Polônia sua terra natal, mas gosta de dizer que se pudesse escolher, moraria em Nova Iorque. Talvez por ter sido lá, onde conheceu, conviveu por muitos anos, e enterrou o grande amor de sua vida.
Hoje pela manhã fui dar água, e retirar as folhas velhas do imenso vaso de lírio da paz. Senti saudade de Dona Sara, pequei o telefone, e liguei para ela. Contei-lhe que o presente que me ofertou há muito tempo, está embelezando a minha varanda, cada dia mais.
Com a voz pausada, serena, ela me disse: "as sementes de amizade, amor, gentileza, que espalhamos pelo mundo afora, falam por nós". Em seguida contou-me, que continua a ministrar aulas de Arte, para jovens carentes.
Desliguei o telefone, e vim escrever esse texto.
A história de vida dessa guerreira, merece vários livros. Uma pessoa, cujo grau de resiliência, fez transformar muitos limões em jarras de doce limonada.
Alguém, cujo grau de adaptação à impermanência da vida, é exemplo para todos.
Perdeu muito, perdeu a família de origem, na Segunda Grande Guerra, depois perdeu um filho, para o câncer, quando ele contava apenas 7 anos de idade, em seguida foi a vez de dizer adeus ao grande amor de sua vida, seu primeiro marido. Mas, com tudo isso, ou apesar de tudo isso, ela segue amando a vida, a natureza, as pessoas.
Dona Sara, realmente é alguém muito especial, e sem dúvida, por todos os lugares por onde passou, deixou sua marca de serenidade, força, coragem e acima de tudo amor pela vida e pelas pessoas.
(Imagem: Lenapena) Obs.: a foto é da cidade que, Dona Sara escolheu como sua preferida, onde residiu por muito tempo, é mais um carinho que dedico à ela.
Um domingo, ela veio almoçar em minha casa, junto com mais alguns amigos, e trouxe-me de presente um lindo cachepô, pintado por ela, e dentro dele um vaso pequeno contendo lírios da paz.
Gosto muito de receber flores plantadas, e não em ramalhetes, pois, assim tenho a oportunidade de cuidar delas e vê-las florescerem por um bom tempo. E com os lírios não foi diferente, eles foram crescendo e pedindo vasos maiores. Atualmente estão plantados em um vaso imenso, onde se exibem com mais de uma dúzia de flores.
Bom, mas não foi para falar dos lírios que ganhei, que comecei a escrever essas linhas, e, sim, para contar sobre quem me presenteou com eles: Dona Sara, uma senhora, que hoje está com 90 anos. Muito lúcida, inteligente, fluente em cinco idiomas, e com uma rica bagagem de vida.
Ter a oportunidade de conversar com Dona Sara, equivale a uma aula de história muito bem dada, por alguém que viveu em cinco países diferentes, e sobreviveu ao horror do nazismo.
Muito embora, tenham perdido seu pai, mãe, e o único irmão, exterminados em um campo de concentração, Dona Sara, não tem uma alma amarga, muito pelo contrário, é grata a Deus (como Judia fervorosa que é) por toda proteção que teve, e por ter sobrevivido, ao inferno do holocausto.
Sempre que tenho o previlégio de poder ouvir essa Senhora contar os horrores que vivenciou, as tristezas, pelas quais passou, a fome, o frio, o medo, e ver a beleza dos sentimentos que ela escolheu guardar em sua alma, noto claramente que estou diante de alguém, não só inteligente intelectualmente falando, mas principalmente de um ser humano que optou por escolher o lado bom da vida.
Em uma de nossas conversas, perguntei à ela, se conseguiu de alguma maneira perdoar Hitler, pela dor que ele causou em sua vida. E fiquei boquiaberta com a resposta que ela me deu.
Disse-me ela: "Faz muito tempo que perdoei, porque entendi, que se guardasse ódio, em meu coração, eu não seria muito melhor que ele. E sei que sou."
Dona Sara, é das pessoas com quem gosto demais de conversar, aprendo muito com ela. É dona de uma cultura invejável, uma tarde com ela resulta em uma aula de história, sempre que tenho a oportunidade de ouví-la, vejo o quanto estou distante de sua lucidez, inteligência e bondade.
O grau de resiliência que existe nessa mulher, é algo magnífico. Todo sofrimento pelo qual passou, as perdas dos entes amados de forma tão vil, já seria o suficiente para amargurar alguém pelo resto da vida. Mas, não a Dona Sara.
Assim que a Segunda Grande Guerra acabou, ela foi viver um tempo na França na casa de amigos, depois morou por um ano no Chile. Em seguida, foi estudar nos Estados Unidos, onde casou-se e viveu por muitos anos, até ficar viúva.
Em segunda núpcias, casou-se com um brasileiro, e desde então reside no Brasil.
Adaptou-se a todos os lugares em que viveu, fora da Polônia sua terra natal, mas gosta de dizer que se pudesse escolher, moraria em Nova Iorque. Talvez por ter sido lá, onde conheceu, conviveu por muitos anos, e enterrou o grande amor de sua vida.
Hoje pela manhã fui dar água, e retirar as folhas velhas do imenso vaso de lírio da paz. Senti saudade de Dona Sara, pequei o telefone, e liguei para ela. Contei-lhe que o presente que me ofertou há muito tempo, está embelezando a minha varanda, cada dia mais.
Com a voz pausada, serena, ela me disse: "as sementes de amizade, amor, gentileza, que espalhamos pelo mundo afora, falam por nós". Em seguida contou-me, que continua a ministrar aulas de Arte, para jovens carentes.
Desliguei o telefone, e vim escrever esse texto.
A história de vida dessa guerreira, merece vários livros. Uma pessoa, cujo grau de resiliência, fez transformar muitos limões em jarras de doce limonada.
Alguém, cujo grau de adaptação à impermanência da vida, é exemplo para todos.
Perdeu muito, perdeu a família de origem, na Segunda Grande Guerra, depois perdeu um filho, para o câncer, quando ele contava apenas 7 anos de idade, em seguida foi a vez de dizer adeus ao grande amor de sua vida, seu primeiro marido. Mas, com tudo isso, ou apesar de tudo isso, ela segue amando a vida, a natureza, as pessoas.
Dona Sara, realmente é alguém muito especial, e sem dúvida, por todos os lugares por onde passou, deixou sua marca de serenidade, força, coragem e acima de tudo amor pela vida e pelas pessoas.
(Imagem: Lenapena) Obs.: a foto é da cidade que, Dona Sara escolheu como sua preferida, onde residiu por muito tempo, é mais um carinho que dedico à ela.