Guimarães Rosa e a raiva

Não sou - nunca fui - alguém que cultiva a raiva, o rancor e nem o ódio. Nao nego que seja meio arengueiro (sempre fui), mas as minhas zangas sao passageiras. Tenho sim minha ideias e delas não abri mão, mas nunca deixei que elas me impedissem de ser alguém pacífico, democrata e infenso ao sentimento da raiva e seus correlatos;

Não faço reclame , mas me orgulho de saber conviver democraticamente sem descambar para a raiva e nem para desavenças pessoais. Faço de tudo para anão ofender ninguém. Quando involuntariamente cometo uma quase ofensa, adoeço. Juro.

Sei que tenho um grande pecado:não se perdoar. Não, não perdoo quem me ofende. Mas sou incapaz de retaliar ou de cultivar raiva, rancor ou ódio. A mim basta ignorar a existência do ofensor.

Estou tocando neste assunto porque estamos vivendo um momento muito delicado e, infelizmente, perigoso. s pessoas estão perdendo sua leveza, a ternura, e o espírito democrático. Há um surto de raiva avassaladora grassando.Não sou de me assustar,mas me espanta essa onda de raiva quase incontida. Amigos estão se estranhando, colegas se alterando, até dentre as famílias está havendo desentendimentos.

Fico triste, mas sou um otimista, acredito na razão. Deus há de iluminar as pessoas. Aproveito a oportunidade para vitar algo escrito por Guimarães Rosa:

"A gente carece de fingir às vezes que raiva tem, mas raiva mesma nunca se deve tolerar. Porque quando se sente raiva de alguém, é a mesma coisa que se autorizar essa pessoa durante o tempo governando a ideia e o sonho da gente, o que era falta de soberania, e farta bobice, e fato é". E priu. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 12/10/2019
Código do texto: T6767807
Classificação de conteúdo: seguro