MEU PRIMEIRO DIA DE AULA

Seis anos de idade. Ano de 1965. Pela primeira vez, eu piso em uma escola para estudar. Grupo Escolar Salvador de Mendonça, Venda das Pedras, Itaboraí-RJ. Dois quilômetros a pé de minha casa. Fui sozinho. Filho de pobre Deus cuida.

Cheguei atrasado, pois o chinelo de dedo insistia em arrebentar as tiras. Pátio vazio. Quis chorar, mas achei esquisito chorar sem ter ninguém por perto para ter pena de mim. Além do mais, eu conhecia a máxima que dizia que homem não chora. Mas eu sempre fui desconfiado dessas frases. Minha mãe dizia que quem não chora não mama e meu pai dizia que o bom cabrito não berra. Cresci confuso.

Então uma professora apareceu, me encontrou perdido ali no meio do pátio e me perguntou qual a minha série. Primeira série, respondi balançando o beiço. Olha, esse momento foi crucial na minha vida. Uma forquilha. A professora falou que a minha sala era a penúltima e voltou para a secretaria, de onde ela tinha saído. E eu continuei ali, e dessa vez não me avexei de chorar sozinho. EU NÃO SABIA O QUE SIGNIFICAVA PENÚLTIMA. Pensei em ir embora, mas ela apareceu novamente, toda embaçada com as minhas lágrimas e me levou para a penúltima sala.

PENÚLTIMA: foi a PRIMEIRA palavra que aprendi na escola.

Leonilzo
Enviado por Leonilzo em 12/10/2019
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