VÍTIMA DE PRECONCEITO

Não sou preconceituoso. Mas já fui seu alvo, atingindo-me de alguma maneira dolorida não só uma única vez.

Por exemplo, quando na juventude, namorei uma jovem de cor bem atraente. Não era bem visto pelos círculo de amigos ou parentes. Sempre íamos na sorveteria do pai de um amigo, branco. Ficávamos os três num bate-papo amigável. Certo dia, ambos desapareceram. Tinham fugido. Ela pediu desculpas. Explicou que os pais dela não aceitavam que ela casasse com um japonês.

Trabalhava comigo no BB, na mesma sala, um descendente de chinês. Ele sequer me cumprimentava ou dirigia palavra. Chinês e japonês é como judeu e árabe, inimigo histórico.

Mas às vezes, esquecemos desse fato. De manhã, tomando condução na Praça da Sé, comia um pastel acompanhado de misto. Quem me atendia era uma chinesa linda e simpática. Seu nome LI (fortaleza, solidez). Gostávamos de trocar confidências, antes olhares poucos amistosos de seus pais.

Fomos algumas vezes ao cinema. Comer uma pizza. Nada de profundo.

Certo dia, disse-me que estava mudando para o interior. Despedimo-nos. Seja feliz que também serei, disse olhando-me nos olhos. Eu nunca fui...

Publiquei, passado bom tempo, essa história num jornal da comunidade oriental. Um leitor comunicou comigo. Disse que conhecia a LI e que ela falecera há cerca de dois anos. Estava repousando lá em Ibiúna.

Levei uma rosa vermelha e deixei-a sobre o mausoléu. Não pude conter as lágrimas...

Yoshikuni
Enviado por Yoshikuni em 10/10/2019
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