AH, CACHORRA MALVADA!
Eu ia passando, tranquila, porque me haviam dito que ela estava presa. De fato estava, mas, embora eu tenha tentado me afastar ao vê-la vindo em minha direção, ela me alcançou. A corda que prendia o animal ao tronco da árvore era muito comprida, como eu nunca tinha visto antes e, pra completar, ao tentar correr, derrapei no chão e acabei caindo.
Minha mãe me levou pra casa e lá me medicou, a seu modo: mastigou um dente de alho e colocou sobre a mordida da cadela de dona Angelita (eu me lembro como se fosse hoje!).
Depois disso, ainda fui duas vezes, que eu me lembre, a um hospital, levada pelo Seu Chico Ema, à procura da vacina contra a raiva, mas algo deve ter dado errado, pois nunca tomei nenhuma. Minha mãe dizia que se eu não tomasse a tal vacina corria o risco de ficar doida.
Eu me lembro, também, e essa é a pior parte do meu drama, de uma recomendação que dizia pra observar a cachorra durante dez dias, período em que a criatura morreu, atropelada por um ônibus. Eu devia ter entre oito e dez anos, não sei ao certo, e não entendia que, nesse caso, a morte do animal não representava risco pra mim. Só depois, bem depois, soube que a observação era pra saber se o animal tinha alguma doença e que, se nesse período de dez dias ele continuasse sadio, eu estaria livre de males maiores.
Já se passaram mais de trinta anos, mas as marcas permanecem, a da perna e a da mente.