Mãe!

Mãe...

Mãe?

Manhêêê.....

Desculpe, mãe, lembrei que não pode ouvir a minha voz, pelo menos fisicamente, mas não faz mal. Sei que ouve do infinito, aliás, todos os meus lamentos e minhas dores! Ouve meus clamores todos os dias, eu sei. Obrigado por isso! Pela sua paciência!

Completam trinta longos anos de separação, não é Mãe? Pois é, trinta longos anos.

Lembro de você com muita saudade, do seu colo caloroso, dos seus abraços, dos seus beijos, seu sorriso. Lembro-me de tudo como se tivessem acontecidos ainda hoje pela manhã. Mas sei que não foi hoje pela manhã. Já faz bastante tempo.

Sabe, mãe, aqueles chimarrões que tomávamos ao pé do fogão? Também me lembro deles. Depois que você se foi, eu ainda tomei muitos deles com meu irmão, mas ele quis te acompanhar e eu fiquei aqui sozinho, sem vocês dois.

Ainda hoje pela tarde, quando caiu uma abençoada chuva por esse território Aquidauanense, depois de longos três meses de seca, poeira e sol quente, me lembrei das chuvaradas do pantanal. E sai brincando na chuva pela rua igual como fazia quando adolescente lá no Nabileque e você brigava comigo: “sai dessa chuva guri e vai se secar, anda logo”.

Sabe mãe, tenho muito que agradecer a você por ter me criado desse jeitão, assim, meio rude, truculento e ao mesmo tempo coração mole. Porque, mesmo parecendo paradoxal, essas virtudes, é, eu chamo de virtudes sim, se contrapõem e me tornam mais humano. Algumas pessoas, se aproveitam e tripudiam, mas nem ligo mais, as vezes me aborreço e quando isso acontece sinto a falta sua, o meu porto seguro dessas horas não está mais comigo.

Sabe outra coisa que herdei de ti e seus ensinamentos também, mãe? Esse sentimento amargurado quando percebo alguém, quem quer seja, me escondendo algo, pessoas traiçoeiras que agem às escondidas, às costas! Poxa vida, por que é que não falam as claras, assim bem no meu nariz, para que eu possa avaliar e me corrigir se estou errado, ou apenas me defender? Bem como você dizia, são covardes. Fazem pelas costas, as escondidas, traindo as vezes até a própria consciência. Quando me acontece isso, mãe, lembro muito de você, o quanto você sofreu com isso. Me lembro muito bem. Isso aconteceu sempre comigo, ao longo de minha vida e jamais consegui arrancar do peito a dor que fica. Consigo perdoar e não desejar o mal pelo mal, mas a dor fica.

Mas tudo isso faz parte não é Mãe? Faz parte sim. Faz parte da vida. Aliás, tenho muito que agradecer a você, por esse sexto sentido aguçado que me deu. Assim posso me defender das maldades alheias sem prejudicar ninguém.

Sua benção, minha mãe! Já estou indo dormir! Boa noite!

Érico Mendonça
Enviado por Érico Mendonça em 08/10/2019
Reeditado em 08/07/2020
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