Saudade de uma época

Constato tristemente o abandono que os nossos governantes nos impõem. Ao longo dos anos não se preocuparam e nem se programaram para os dias atuais, haja vista a não mais presença do Cosme e Damião pelas ruas, como um dos muitos exemplos típicos desse abandono.
Para quem não testemunhou essa prática, vou esclarecer: o Cosme e Damião a que me refiro não são os santos católicos, mas sim os dois policiais militares que rondavam nossas ruas, dando-nos segurança, e que hoje não vemos mais, mas existem, só estão alocados dentro das unidades sem nada fazer. Tenho consciência de que a cidade, como qualquer outra, cresceu e inchou, mas nem por isso é justificável tal situação. Até porque manter esses homens nos quartéis é um custo alto e desnecessário se não são aproveitados no policiamento ostensivo.
A falta de segurança está nos levando às raias do desespero. Não se pode mais sair com a garantia de que voltaremos para casa seguros, de que não seremos atingidos por uma bala perdida, ou de que não sofreremos qualquer tipo de violência.
Roubos de carros, arrastões, assaltos à mão armada, sequestros relâmpagos e não relâmpagos fazem parte do cotidiano da cidade, deixando-nos cada vez mais prisioneiros da síndrome do medo.
A disseminação das drogas deve ser combatida com rigor, pois não há um só lugar em que ela não esteja presente, e a manutenção da sua distribuição é por conseguinte a grande causadora de toda essa violência. Acredito que a volta da ronda do Cosme e Damião em todos os bairros seja o início desse combate.
Ah, que saudades da minha adolescência! Acredito que essa sensação seja de todos os que hoje estão com sessenta anos. Tudo era possível de ser fazer. Como hoje ainda o é, é claro. Só que com uma diferença: naquele tempo não corríamos os riscos da atualidade e hoje temos que enfrentá-los se quisermos ter algum tipo de distração.
Lamentável, muito lamentável!
Naquela época ainda era bem difícil o contato com as drogas e a estigma de “aborrescente” não empurrava ninguém para elas, por isso a grande maioria dos jovens eram bem mais felizes. Curtiam a vida de cara limpa.
Lembro-me perfeitamente de como era raro aparecer algum ladrão, desses que arrombam casa ou cometem um assalto.
Arrastão? Só existia nas pescarias.
Um costume da época que hoje se tornou impraticável é o padeiro deixar o leite e o pão na porta de algumas casas bem cedinho, evitando com isso a ida à padaria ao acordarmos. Outra boa lembrança é a de quando íamos a um baile e no final podíamos voltar de madrugada caminhando pelas ruas da cidade sem nada temer. E digo mais, dependendo do horário deste retorno, nós é que éramos os grandes perigosos do momento, pois algumas vezes por pura molecagem de adolescente roubávamos uma daquelas entregas de leite e pão.
Quando penso nessa época, uma angústia aperta o peito e sinto pena dos jovens atuais. Jamais saberão o que é verdadeiramente a liberdade.
Entretanto, acredito que se houvesse um melhor planejamento, mais seriedade e responsabilidade por parte das autoridades, com certeza não estaríamos passando por tudo isso.

05/03/01
Fernando Antonio Pereira
Enviado por Fernando Antonio Pereira em 06/10/2019
Reeditado em 06/10/2019
Código do texto: T6762615
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