Graça recebida
Domingo de manhã, estava frio em São Paulo.
Procuro uma blusa de lã nas gavetas.
Bem lá no fundo, limpinha e cheirosa,
Uma velha conhecida de outros frios.
Mas junto também achei um carnê.
Quase 60 páginas.
Meio amarelado, cantos dobrados, faltando folhinhas.
Eram as prestações da minha vida!
Uma folha carimbada pago, era dos velórios que fui.
Outra dos doentes que visitei.
Mais uma com pago, era das promessas que paguei.
Mas tinha umas folhas em branco das dores que eu causei.
Não tinha carimbo de pago, mas tinha aviso de atraso.
Descendo uma rua do meu bairro
Fui folheando o carnê, ora ria, ora fazia bico
Vejo uma faixa de agradecimentos pendurada nos postes.
Alguém agradecia uma graça alcançada
E eu estava ali, estático, olhando para ela.
Não sabia se agradecia ter descoberto esse carnê
da minha vida,
da minha vida,
Ou se arrancava a faixa por cutucar minha consciência.
Ou então, se também fazia uma faixa de gratidão,
como todos que tinham alcançado uma graça.
Lembrei das alegrias que tive.
Das graças que recebi
Das paixões que despertei
Dos amores que vivi.