A China vem do Oriente  
                                                                              
          Quando era menino em Pilar, a televisão da casa era um rádio ABC. Por ele tudo se escutava, inclusive as imaginações das notícias e de outras coisas que o vocabulário de menino não entendia. Contudo, não desconhecia a propaganda de um sabonete, com aromas exóticos, que repetia o que ainda hoje tenho em memória: “A sabedoria vem do Oriente”. Outras coisas, vindas daquele mundo, aprendi já no Grupo Escolar: como inventaram a pólvora e os fogos de artifício da festa da padroeira; mais tarde, quando “vocabulário” era o termo que reunia definições de várias palavras, constantes num determinado texto literário, do livro didático, já em Itabaiana, as freiras do Colégio Nossa Senhora da Conceição me ensinaram outras invenções chinesas, como o papel, a bússola, o sismógrafo, o álcool, a seda e o macarrão, trazido por Marco Polo para a Itália. Não pararam de inventar, de vender brinquedos, artigos de cozinha, guarda-chuvas e sombrinhas, em todos os vilarejos do mundo, até construir sofisticadas naves para irmos a Marte.  
          E por muito tempo, como em outras regiões do planeta, havia quem não tivesse emprego, quem não tivesse dinheiro para comprar comida, e quem vivesse sofrendo de fome, problema, em quase todos os continentes, que se arrasta até os dias de hoje. Durante milênios a fome foi problema para os governos chineses, país de imensa população; parecia que não havia como a China alimentar sua população de 1 bilhão de habitantes. Considerava-se que países populosos, como também a Índia, estariam fadados a caminharem para a catástrofe da falta de alimentação e da subnutrição. Mas, há décadas, a China se reabilitou; ainda recordo o que me disseram, na adolescência: Mao Tsé-Tung ter obrigado cada família chinesa fazer criação de codornas, o que, todos os dias, produzia à cozinha aves e nutrientes ovos. Constatou-se que, em 1974, “centenas de milhões de chineses foram resgatados da pobreza, e, ainda que houvesse providências para que outras centenas de milhões não sofram mais dessas privações”: faltar comida na hora da refeição.
          Enfim, “a China está livre da fome”, dando exemplo econômico a países menores, sobretudo na distribuição de riquezas, como é o caso da Argentina, nosso vizinho, onde parte dos 35 milhões de argentinos sofre extremas necessidades. Em edição do dia 2 de outubro, o jornal A União repercute manchetes da imprensa latino-americana e paulista: “Argentina: pobreza sobe 30% e atinge 15 milhões – Números apontam também que 3,3 milhões de argentinos são considerados indigentes no país de Macri”. Quando visitei a China, durante as duas primeiras semanas de setembro de 2001, em companhia de Luiz Ramos Cavalcanti, de Mário Silveira e do seu filho José Octávio, maravilhei-me com diversas e imensas cidades, onde não vimos algum mendigo, mas cidadãs e cidadãos, adultos, jovens e idosos, indo e voltando do trabalho, bem vestidos e sorrindo da vida. Observamos a população simples, até rurícolas com cesta de ovos no colo, viajando conosco em luxuosos aviões ou em moderníssimos trens. Estradas duplicadas em três pistas, divididas por jardins; porém contrastava que, mesmo num país socialista, em algumas autoestradas, cobrava-se pedágio...
          O governador João Azevêdo me fez seu representante na Festa dos 70 anos da República Popular da China, ocasião em que fui muito bem recebido pela diplomata Yan Yuqing (
foto), Consul da China em Recife, naquela cerimônia banqueteante,  lisonjeada pelos cônsules e governadores presentes àquela magnânima festa, digna à dimensão da potência econômica da China no mundo atual. A reportagem “Nada freia a China”, na Revista Nordeste, de Walter Santos, sobre esse gigante do Oriente, revela essa cultura ancestral e atual no cenário mundial e suas lições de relações internacionais, de moderação e de determinação política. Nesse contexto, o governador João Azevêdo tem empreendido ações para realizar com a China ricas parcerias para nossa área portuária. Que também, a partir do nosso porto, de Cabedelo ou Lucena, construam-se largas estradas, substituindo a tão planejada transamazônica, em intercâmbio com a China, trazendo, por terra, quem chega pelas águas do Oceano Pacífico, nas costas andinas, sem arrodear pelo Cabo de Horn (Cabo de Hornos), no extremo do Chile. “A sabedoria vem do Oriente” e pede passagem do Pacífico ao Atlântico, também pela Paraíba...