Tortura Sonora

Eu sentia muitas dores nos joelhos e era necessário o exame de ressonância magnética solicitado pelo meu ortopedista. A princípio seria um exame simples, pois ao chegar no hospital com o pedido médico, fui muito bem atendido. Não houve demora no pré-atendimento e logo a Técnica me chamou para que eu respondesse um questionário e depois pediu para que eu me despisse e colocasse um roupão a não poupar nem a aliança nunca tirada do dedo desde o dia do meu matrimônio com Maria Alice.

O equipamento que aguardava os meus 106 kilos era como um forno à lenha de assar pizza gigante e quando eu nele adentrei, comecei a sentir um pouco de fobia e perguntei:

Quanto tempo vai levar este procedimento?

A jovem especialista respondeu graciosamente:

- O tempo é de 40 minutos.

Então, foi acionado o botão de "START" e minhas pernas foram conduzidas para dentro daquele imã enorme a começar uma tortura sonora que jamais eu poderia imaginar que um dia eu sofreria.

Era uma mistura de sons graves e agudos como uma sinfonia desafinada e de repente tudo se silenciava por alguns minutos a retornar o martírio que me deixava arrependido de ter aceitado o convite daquela voz maviosa:

- Senhor, pode deitar de barriga pra cima e boa sorte.

Não tive coragem de apertar o botão de chamada, pois fui orientado a não me mexer, o que poderia afetar o resultado do exame e meu perfeccionismo impediu o pedido de socorro.

Após um grande sofrimento, enfim o tempo acabou e surgiu a Técnica sorridente a finalizar o procedimento e eu, aliviado e com o ar de vitorioso e forte, indaguei:

- Poxa! Ainda bem que acabou o tormento, nunca mais eu quero fazer este tipo de exame.

E a resposta serena da jovem que me atendia foi:

- Senhor, agora vamos realizar o exame no outro joelho.

Ed Ramos
Enviado por Ed Ramos em 05/10/2019
Reeditado em 05/10/2019
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