Brasa: Brasis e Brasões
Lembro-me das primeiras semanas no antigo Ginásio e Colégio... Era herdeiro, a escola, de tradicional centro educacional para rapazes. Tornou-se pública e mista para ambos os gêneros – os trans e seus indícios eram severamente assediados moralmente, nem se falava sobre isto. Mas aquele estabelecimento herdou o ranço de escola para as elites mineiras. Os professores faziam a chamada acompanhada das constrangedoras perguntas: “Você é filho de quem? De qual família?” Era um segundo vestibular, porque daí o aluno era remanejado de turma segundo suas origens. O primeiro havia sido o concurso de admissão, que só aprovava quem podia ter pagado bom professor particular preparador para tanto. Um terceiro vestibular se fazia para quem pudesse pagar os caros livros da bibliografia indicada, o uniforme de gala para atividades cívicas, o uniforme completo para educação física e o uniforme do dia-a-dia com gravatas e insígnias e tudo. Caso não tivessem eram impedidos de assistirem aulas e entrar na instituição.
Esta neurose de saber as origens impregnava os alunos. No ensino que hoje corresponde ao médio, havia aquele colega estranho que todo dia ia com o rascunho de sua árvore genealógica, segundo o levantamento feito por ele mesmo nos cartórios oficiais e igrejas da redondeza. Por este levantamento arbitrário aparecia os ramos de barões brasileiros e seguia os viscondes, condes e marqueses europeus.
Na faculdade da cidade havia aquela mestra que convidava estagiários e pares em sua casa e lá fazia questão de exibir o Brasão de sua família oligárquica.
Estas pessoas são aquilo que Fernanda Young em sua última crônica póstuma escreveu e chamou de “Bando de Cafonas”. Segundo a cronista estas pessoas “Quer todo mundo igual, cantando o hino”. E “Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias.”
O memorialista Pedro Nava narra que ele chegou a ser seduzido por estas ideias de demonstrar suas origens e mandou fazer um anel com o brasão de sua família. Depois desistiu ao concluir que “...falando em língua mineira – brasileiro não orna com brasão. Uns e outros, velhos, pois temos uma brasileirice de quinhentos anos, coeva, cada vez mais...numa série de homens e mulheres bons e maus, demônios ou quase santos, castos e lúbricos, austeros e cínicos, coração na mão ou cara estranhada pela hipocrisia...” ¹
O Brasil é brasa que se faz de brasis sem brasões.
Lembro-me das primeiras semanas no antigo Ginásio e Colégio... Era herdeiro, a escola, de tradicional centro educacional para rapazes. Tornou-se pública e mista para ambos os gêneros – os trans e seus indícios eram severamente assediados moralmente, nem se falava sobre isto. Mas aquele estabelecimento herdou o ranço de escola para as elites mineiras. Os professores faziam a chamada acompanhada das constrangedoras perguntas: “Você é filho de quem? De qual família?” Era um segundo vestibular, porque daí o aluno era remanejado de turma segundo suas origens. O primeiro havia sido o concurso de admissão, que só aprovava quem podia ter pagado bom professor particular preparador para tanto. Um terceiro vestibular se fazia para quem pudesse pagar os caros livros da bibliografia indicada, o uniforme de gala para atividades cívicas, o uniforme completo para educação física e o uniforme do dia-a-dia com gravatas e insígnias e tudo. Caso não tivessem eram impedidos de assistirem aulas e entrar na instituição.
Esta neurose de saber as origens impregnava os alunos. No ensino que hoje corresponde ao médio, havia aquele colega estranho que todo dia ia com o rascunho de sua árvore genealógica, segundo o levantamento feito por ele mesmo nos cartórios oficiais e igrejas da redondeza. Por este levantamento arbitrário aparecia os ramos de barões brasileiros e seguia os viscondes, condes e marqueses europeus.
Na faculdade da cidade havia aquela mestra que convidava estagiários e pares em sua casa e lá fazia questão de exibir o Brasão de sua família oligárquica.
Estas pessoas são aquilo que Fernanda Young em sua última crônica póstuma escreveu e chamou de “Bando de Cafonas”. Segundo a cronista estas pessoas “Quer todo mundo igual, cantando o hino”. E “Odeia o diferente, pois não tem um pingo de originalidade em suas veias.”
O memorialista Pedro Nava narra que ele chegou a ser seduzido por estas ideias de demonstrar suas origens e mandou fazer um anel com o brasão de sua família. Depois desistiu ao concluir que “...falando em língua mineira – brasileiro não orna com brasão. Uns e outros, velhos, pois temos uma brasileirice de quinhentos anos, coeva, cada vez mais...numa série de homens e mulheres bons e maus, demônios ou quase santos, castos e lúbricos, austeros e cínicos, coração na mão ou cara estranhada pela hipocrisia...” ¹
O Brasil é brasa que se faz de brasis sem brasões.
¹ NAVA, Pedro. Baú de Ossos. Memórias. 3ª Edição – Livraria José Olympio Editora. P. 186
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 04/09/2019
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Lei do Direito Autoral nº 9.610,
de 19 de Fevereiro de 1998.
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