Pelourinhos Novos
Há quem ache que O Pelourinho é apenas um ponto turístico da cidade de Salvador, não se engane. O pelourinho era uma estaca instalada em alguma praça da cidade, onde criminosos e escravos eram açoitados. Todas as cidades estabelecidas do Brasil tinham o seu; acreditava-se que assim praticavam justiça.
Embora as cidades brasileiras tivessem seus pelourinhos, esse instrumento de castigo foi importado da Europa, que também tinha os seus. Nestes locais os criminosos condenados a morte também eram expostos antes de serem, geralmente, enforcados. O estabelecimento de uma cidade "respeitável" vinha acompanhado da instalação do pelourinho, onde acreditavam que a "justiça era, exemplarmente, feita". Os pelourinhos eram comuns em diversos lugares do mundo até pouco mais de cem anos atrás. Em países de cultura muçulmana ainda são comuns, embora nem sempre fiquem tão expostos.
Nos ditos países modernos, os pelourinhos apenas mudaram de forma; eles ainda estão por aí.
Escravos eram levados ao pelourinho quando se recusavam a fazer serviços que seus patrões exigissem, quando fugiam, provocavam rebeliões, ou mesmo agrediam seus detratores. Eles não tinham o direito a um livre pensar ou agir; se o fizessem, era certo que a punição viria. Tinham apenas a obrigação de obedecer e trabalhar.
Que semelhanças teriam hoje esses castigos na vida de um trabalhador?
Trabalhadores de qualquer nível parecem não perceber que suas liberdades são um tanto limitadas; têm o direito de, tal qual os escravos, trabalhar e obedecer seus chefes e patrões. Se desobedecerem, são levados aos pelourinhos novos, estrategicamente instalados nas praças das cidades e vilarejos.
Trabalhadores da atualidade são vigiados por seus patrões ou por capatazes tão truculentos quanto os feitores de escravos.
"Coach" modernosos orientam os "colaboradores" de seus clientes a não publicarem opiniões político-partidárias em suas redes sociais, tomarem cuidado com os assuntos que vão tratar com seus colegas, empregadores ou possíveis empregadores; manterem uma "net work" com pessoas influentes, adequando-se a um perfil que lhes garanta empregabilidade. Pouco importa as reais qualidades profissionais, ou opiniões pessoais, basta que o indivíduo pense como imagina pensar seu empregador e seus prepostos. E mais; levarão vantagem aqueles que descobrirem como pensa os eventuais empregadores e passarem a defender os mesmos valores.
Onde está a liberdade dos trabalhadores atuais?
Nossos amigos que ainda se mantêm empregados, principalmente nas grandes corporações, não ousam opinar em discussões corriqueiras nas redes sociais; têm medo de ficar expostos e isto lhes custar umas boas chibatadas nos pelourinhos novos, ou seja; impedimento de promoções, desprezo, rotulação, discriminação, exclusão e em ultima analise, demissão.
Alguns trabalhadores têm estado permanentemente presos ao pelourinho sendo açoitados algumas vezes por dia, por semana ou por mês. São aqueles mais de 12.000.000 de desempregados, que mesmo fazendo alguns "bicos", não têm renda fixa ou direitos assegurados.
Mais fustigados ainda, são aqueles que, desalentados numa nação onde não existe política habitacional e de garantia alimentar, moram nas ruas e comem restos ou o que lhes dá a população.
Ainda se sentem libertos os funcionários públicos, protegidos por concursos que lhes garante estabilidade, porém, essa estabilidade está sendo questionada pelos atuais mandatários com suas políticas entreguistas.
Enquanto sonhamos com liberdade, forças ocultas erigem pelourinhos novos.
Raul - 9/2019