[IN]FINITUDE
A barra de chocolate e seu último retângulo derretendo vagarosamente no fundo da língua. Finito. O sorriso da criança, perene, transbordando o seu próprio fim nas pupilas de quem o vê. Finito. O turista, tentando apanhar com as mãos mentais todo o reforço sensorial do ambiente, para não deixá-lo partir, o deixando. Finito. O abraço apertado de vó, marinando no cheiro de café recém passado no ambiente. Finito. O desodorante aspergido às pressas pouco antes de se ir à escola, quando criança. Finito. O primeiro beijo na adolescência e o êxtase interno prolongado por dias a fio. Finito. O primeiro amor recheado de melosidade e inseguranças, onde tudo é perfeito e as juras são à eternidade. Finito. O primeiro gozo a partir de uma revista midiática qualquer, trancafiado no banheiro de casa. Finito. A primeira panela de arroz feita por você e pra você, dominando as narinas com perfume nunca antes percebido, apesar de conhecido. Finito. Pequenos momentos que a gente carrega no cerne do coração, da memória... no cerne do âmago. Infinito.
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