Na rua

Quem me conhece sabe que não sou muito afeito a pesquisas de nomes de rua em aplicativos de celular. Prefiro pedir informação diretamente às pessoas. Gosto mesmo é de um tête-à-tête, de um vis-à-vis. Ou na mais pura linguagem coloquial: de um olho no olho, de um cara a cara. O contato com os outros é que nos faz bem. Mesmo que nos custe um pouco mais de tempo para encontrar o que procuramos...

- O senhor pode me informar onde fica a rua Antônio dos Santos Zaqueu? - perguntei a um peixeiro na calçada. Ele deixou de atender seu cliente que estava escolhendo o peixe e respondeu:

- Rapaz, essa rua não me é estranha. - e gritou para o amigo jornaleiro: - Seu Nelson, onde é que fica a rua Antônio dos Santos Zaqueu? Explica aí pro rapaz! Essa é a rua que mora seu Genivaldo?

- Não. A rua de seu Genivaldo é a Sebastião Lacerda... eu tenho pra mim que depois dela vem a Antônio dos Santos Zaqueu...

- Essa que o senhor está pensando é a Dr. Rabelo. É a que eu moro. - respondeu uma senhora que aguardava no ponto de ônibus. A Antônio dos Santos Zaqueu eu acho que é mais lá pra frente. - continuou: - não é a rua daqueles rapazes...?

- Dos gêmeos? - perguntou o jornaleiro.

- Não. A dos gêmeos é a rua Maria Eugênia. - disse a senhora. - Eu tenho pra mim que é a rua onde moram os filhos do falecido seu Anastácio.

- Isso mesmo. É a rua do falecido seu Anastácio. - disse o peixeiro.

- Não. O senhor está enganado... - disse um senhor que prestava atenção em toda a conversa enquanto esperava o ônibus. - A rua do falecido seu Anastácio é a rua Manoel Carneiro. Os dois filhos dele moram na rua seguinte, que eu acho que é a que o rapaz está procurando.

O jornaleiro já foi logo me explicando: - Você vai direto e dobra na sexta rua à direita. Na esquina tem um...

- Depósito de bebida. - disse o senhor que esperava o ônibus.

- Não. Um açougue. O depósito de bebida é bem depois. - corrigiu a senhora.

Depois disso, virou uma discussão entre o senhor, a senhora, o jornaleiro, o peixeiro... ninguém entrava em acordo se era a rua do açougue ou do depósito de bebida que eu deveria entrar. Enquanto eles discutiam, eu aguardava a definição.

Depois de algum tempo, ainda não haviam entrado em acordo com relação à rua. Resolveram me perguntar:

- O que você procura nesta rua?

Eu disse que estava à procura de uma rádio comunitária.

- A rádio? Se eu soubesse que você estava à procura da rádio já teria dito a você. Olha bem, meu filho, você vai direto e dobra na... na... na nona rua à esquerda. - disse a senhora.

E, quando eu pensei que finalmente tinham chegado a um acordo, a discussão continuou:

- Nona não. Oitava. - disse o jornaleiro.

E o peixeiro perguntou:

- Não é sétima?

Fábio Rodrigo
Enviado por Fábio Rodrigo em 01/10/2019
Reeditado em 02/11/2019
Código do texto: T6758106
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