Dizem que ser mãe é padecer no paraíso. Discordo um pouco quanto ao padecer.
Houve um tempo em que a maternidade ficava à léguas de distância dos meus planos.
Queria estudar muito, trabalhar muito, e pensava que a maternidade poderia de certa forma atrapalhar esses planos.
 
E a maternidade veio cedo com a chegada de um menino - Léo.
Mas com menino sabia que seria fácil. Sempre fui moleca, desde pequena jogava bolitas com os meninos, cela, taco e pouco me importava com os joelhos esfolados ou as roupas e o corpo molhados de chuva ou sujos de barro.
Já na adolescência, meus melhores amigos sempre foram os rapazes. Era como se eles estivessem sempre de boa - não falavam mal dos outros, não tentavam puxar o tapete de ninguém, nem perdiam tempo com falsidades. Gostava de estar com os meninos, as conversas fluíam bem e assim foi por toda a minha vida, tive e tenho amigas, mas continuo com a minha compatibilidade com os meninos.
 
Lembro-me como se fosse hoje o pavor que tive quando fiquei grávida de uma menina - Meu Deus, uma menina ! O que eu faço com uma menina ? Meninas são cheias de frescuras - pensei.
 
A vida não nos prepara para a maternidade... Mas a natureza é sábia e durante a gestação, tanto o corpo quanto a mente começaram a se modificar. Meus olhares e sentidos foram aflorando.
Dar à luz não é somente lindo, mas mágico também. Transforma-nos mais por dentro do que por fora.
Então passei a me sentir diferente, radiante, muito mais sensível e infinitamente mais feminina.
A minha menina, Letícia, e o meu menino, Léo, fizeram por mim mais do que eu jamais poderia ter feito.
 
Hoje sei que a maternidade não veio cedo à minha vida como pensava, mas veio na hora certa.
E eu que acreditava ter uma vida boa, que tinha tudo o que precisava e principalmente uma liberdade gigantesca, só após a maternidade percebi o quanto a minha vida era fútil e vazia. Que tudo aquilo que almejava antes da maternidade não se comparava a imensidão desse laço, capaz de nos fazer doar a própria vida em prol de outra vida sem sequer pestanejar, não por orgulho ou mérito, mas por amor, o amor mais forte e mais belo, que em tempo algum, palavra nenhuma será capaz de explicar .

 






 
DENISE MATOS
Enviado por DENISE MATOS em 30/09/2019
Reeditado em 30/09/2019
Código do texto: T6757748
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