A CULPA QUE SE QUER INOCENTE.

Tenha piedade Deus dos que o mal fizeram, e de seus discípulos, que os defendem na irrazoabilidade dos fatos notórios contestados, que enfrentam a verdade da culpa sem a menor possibilidade de percorrer uma inocência que naufraga no mar das suas responsabilidades sonoras, que cantam a culpa no eco de todas as ressonâncias, em palmilhados lugares. E o fato notório, está em todas as leis processuais, independe de provas.Por quê? Por entrar olhos a dentro, sem necessidade de estar ainda corroborado por farta prova material.

Nada pior do que a religião devotada do egoísmo, que se torna mais grave naqueles que podendo fazer o bem, suprimiram com doação de pouco o direito do muito, e que poderiam fazer por muitos quando exercendo cargos de vulto, tudo em nome de um culto pessoal.

O conhecido crime do “enriquecimento sem causa”, sempre com as mãos nos cofres dos Estados, dinheiros públicos, para essas personalidades não é crime, mas direito. Delírio dos íntimos menores na convulsão das frustrações e complexos.

A inclinação para o mal traz os rigores das penas, terrenas sempre mitigadas, mas as do além, transcendentes, desconhecidas, mas sentidas nas hostes da espiritualidade, se conhecem na literatura como severíssimas.

O festejado florentino Dante, situa esses rigores no seu “Inferno”:

“Enquanto conservei a forma, em carne e osso (d’ossa e dipolpe) que recebi de minha mãe (che que la madre mi die) minhas obras não foram de leão mas de raposa (madivolpe); conheci todas as astúcias e dissimulações políticas (ioseppi tute), e com tais artifícios as empreguei que o eco de minha fama repercute por toda a terra”.

Estamos diante desses sinistros traços. O Brasil e seus personagens têm vivido essas realidades com intensidade.

A vida é breve, a eternidade não, como mostrou o poeta Virgílo a Dante.

Onde está o arrependimento que solapou da miséria a fortuna contrária à lei? Confessam pecados alguns, em troca de pena terrena menor.Foi assim na Itália, no Brasil e onde vigora o instituto. Já é um passo de arrependimento. Outros querem proclamada a inocência diante dos crimes mais atrozes verificados e revelados, que destroem uma nação.

Grita a lógica a pedir razões, por quê?

Para ficar no cenário, não descer do palco para o ostracismo, levando a insígnia da inverdade como perseguidos quando são e foram perseguidores, quando homens públicos, dos necessitados, e assim o foram de multidões cassadas em seus direitos mínimos em meio de esmolas para alguns.

Só Deus por sermos todos seus filhos poderá ter comiseração. Esferas impenetráveis....

Ninguém pode distinguir onde o pacto coletivo não distingue, a lei.

Vivam suas dores e sofrimentos sem pensar que são algo mais que criminosos que foram; as festas do opróbrio cessam.

Os usurpadores presos, alguns vendo seus bens roubados leiloados, é pena acessória, e numerários em espécie bloqueados, acharam que vinham para uma passagem de gáudio e prazeres. Não conheciam a justiça, mesmo que tíbia, vacilante, por vezes alterada nos bastidores, justiça formal, que de algum modo, mesmo titubeante, proclamada por homens, deixa marcas, mero instrumento na terra da justiça divina, início da distribuição da medida de justiça severa cantada por Dante, e que se abate sobre o criminoso através das aflições que terá que passar para início de resgate do que deve por ausência de consciência. Não há dívida dessa ordem sem o devido resgate no tempo e hora certos.

Não conhecem a advertência de um Voltaire por falta de luz, sic: “Não sei quem me pôs no mundo; nem o que é mundo nem o que sou eu mesmo; vivo numa terrível ignorância sobre todas as coisas; não sei o que é meu corpo, o que são meus sentidos, a minha alma e essa parte mesma de mim que pensa o que digo, que medita sobre tudo e sobre ela própria, e não se conhece mais do que o resto”.

O benefício de nossas misérias é usufruir nossos gostos e distrações, os enganosos divertimentos, principalmente da culpa que se quer inocente, culpa que eclode em toda a jornada marcada pelo mal; essa a maior miséria que o tempo engole sob o pálio de sua soberania e com presteza, e abre os véus.

Os inconscientes que passam uma vida levados pelo vento do mal que abre a porta do cárcere, lembrarão sempre suas jornadas malditas do outro lado na destinação do que merecem, cuja antevisão já se desenha na súplica terrena de uma inocência inexistente e pelo temor do que se avizinha.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 29/09/2019
Reeditado em 30/10/2019
Código do texto: T6756795
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