Naturalmente, não sou do tipo exala impaciência nos poros. A não ser que o dia seja uma espécie de teste de “fidelidade” ao propósito. Quando tenho que aguardar atendimento e encontro cadeiras confortáveis, nem me preocupa a demora, aproveito o trajeto. E hoje não foi diferente. Uma mochila azul piscina abarrotada e pesada aos ombros, vez ou outra raspava de leve as minhas costas: a proprietária, coitada, parecia não ter noção de espaço e de que dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Tudo bem, pecinha de ouro da engrenagem enferrujada, as costas são largas e na mesma proporção a vontade de evoluir. Uma, duas, três, quatro e o movimento já começou a me atrair por causa do círculo em volta. Debrucei o já cansado braço esquerdo portador de espondilite e passei à assistir de perto, com atenção a demonstração grátis do produto inovador. Conquiste a sua saúde sem esforço! Perca peso escolhendo a sua cor preferida. Quantos quilos você quer esquecer? - Esquecer produção? Como assim? E daquela mochila partiam pulseiras emborrachavas coloridas vendidas como se remédio fosse para o tão sonhado corpo perfeito. Um notebook na mão e dezenas, isso mesmo dezenas de fotos, de pessoas que adquiriram a pulseira esquece peso e que elevaram a autoestima e estão felizes com o corpo. Pulseira pra lá, dinheiro pra cá, e ali bem surpresa, a pessoa que vos escreve. Século XXI, internet, medicina avançada, charlatanismo, ignorância e inocência. Eita que se Jesus voltasse ia fazer feito no templo “quebrar tudo”, mas convenhamos não parece surreal. Volta a imagem (rebobina a fita como diria vovô) uma sala de espera de uma clínica de tratamento de saúde e a venda não disfarçada de uma pulseira magnética que faz emagrecer. Por lá, pessoas vindas do interior, em carros fretados pelo Estado, para os tratamentos mais diversos financiado pelo SUS. Fiquei por ali meio que atônita, meio que perplexa, meio que triste, meio que... Até que todos foram se afastando e a paz voltou a reinar. Ao tentar me levantar, olhômetro chão e vejo uma amarelinha caída, meio sem jeito a pego e tento ler as letras garrafais impressas: Made in China: best toys. E não esqueci nenhum quilo depois disso. Será que problema da pulseira do esquecimento sou eu? É meu? Isso não é piada, infelizmente.