CONFISSÃO DOS MEUS PECADOS

CONFISSÃO DOS MEUS PECADOS

O dia de ontem, a minha quinta-feira, foi igual tanto a minha segunda e quarta-feira, pouco mais que dias de “merda”. Merda eu, é o que estou me sentindo. Dias inúteis, como uma folha em branco.

Pequei nas segundas, quartas e quintas feira…

Esses dias poderiam ter sido diferentes.

As 5h eu acordo e me arrumo, fico bem arrojado, caminho até a minha paragem, apanho o meu autocarro, “smart Kicka” que todos esses três dias me leva até ao Museu.

Muita gente, tão apertado igual a sardinha em lata, uns são jovens indo para escolas, muitos são pais de famílias na labuta diária, outros sem destino, amanheceu devem sair de casa para encontrar alguma coisa! Nossa sociedade está cheia de gente dessa categoria, pessoas descartadas no trabalho, nas famílias, descartados até na casa do Senhor.

Cada um com suas preocupações e ansiedades, o desejo de um dia feliz, de um encontro, me deparei com um jovem dos seus 33 anos, suponho, em plena aquela manhã estava fazendo alguns cálculos do seu salario baixo.

Eu não olhei para ninguém, quase eu fitava o cobrador quando me perguntou pelo bilhete.

Depois da descida, somos vinte. Uns caminham para a direção oposta, e eu vou percorrendo a rua do hospital Central de Maputo, bem ali ao lado da Oftalmologia em direção a Av. Mão Tse-Tsung. É lá onde se situa a minha escola. Que sou vou nas segundas, quartas e quintas.

Quando chego no ISCISA, conheces? Acho que sim. Tem sempre um velho quietado, todo santo dia esta ali, bem abatido clamando por uma ajuda, seja qual for. Eu nem reparei nele. Não procurei olhar o seu coração apertado, porque não sabia o que comer, o filho ficou doente e ele desesperado pedindo uma ajuda.

Depois das minhas aulas, caminhei pela Av Samora Machel, em direção ao Jardim Tunduro, adoro ficar naquele espaço para uma boa leitura.

Sentei-me num dos Bancos. Na outra ponta do Banco, uma Mulher chorando, talvez com amargura as alegrias que se foram, ou os fracassos que estes estão sempre a florir nela.

Distraia-me com tudo que acontecia no jardim, não olhei com atenção para ela.

Não olhei porque tinha os olhos voltados para mim próprio, para o meu “mundo”, para uma merda de deserto onde se movimentam sombras sem interesses.

Que frustração dos meus dias inúteis..

Se tivesse “olhado”, poderia ter ido até junto deles, levando lhes o conforto de uma presença; ter-lhes-ia oferecido o conforto de segurança, de um acolhimento, uma boa escuta. Dar-lhes-ia a sensação que não estavam sozinhos. Pelo pequeno gesto meu de atenção poderia ter-lhes ajudado a libertarem-se.

Estou me confessando porque não aguento mais isso…

Mas eu não “olhei”, e eles ficaram mais pobres, e eu ainda mais pobre e inútil.

Todos esperam e muitas vezes procuram OLHOS, e não ESTATUAS DE PESSOAS QUE VAGAM PELA CIDADE, MORTOS VIVOS.

Por vezes não precisamos mais que isto, isto basta-nos…

Um olhar de simpatia…

Simpatia quer dizer sofrer com a dor do outro…

Eu deveria até ter dado uma moeda naquele velho, pois é o que ele pedia, vale muitas vezes, mais que uma moeda que se troca por pão, há fomes que só se matam com amor.

Perdoa-me senhor, por ao longo destes dias, não ter olhado para os outros

Eu fiquei mais pobre porque me comportei como um bom burguês, no meu mundo de alegria ou de tristeza. Eu não dei do pouco que tenho.

Perdoa-me, Senhor, eu perdi a ocasião de ir ao encontro dos outros.

Perdoa-me, Senhor, por eu não ter amado, olhado para os outros.

“Se o Cristo não tivesse reparado em Zaquei, a liberdade e a alegria não teriam entrado jamais em sua casa nem na sua alma torturada…

Perdoa-me Senhor, e perdoa as minhas segunda, quartas e quintas-feiras..

ATENÇÃO: Está Crónica é tão real quanto a voz de quem está Cronicando. desde já agradeço suas correções..

Sydney João Sindique

Sydney Sindique
Enviado por Sydney Sindique em 27/09/2019
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