Epiderme da Alma

Não sei o que aconteceu, mas talvez somente Zygmunt Bauman no seu clássico Amor Líquido, pode explicar. Mas percebeu que ultimamente cada vez mais economizamos gestos afetuosos como aperto de mãos, abraços e manifestações de carinho ( e para alguns) até dentro do seu seio famíliar?

Tive essa percepção esses dias e agora enquanto o trem corre nos trilhos da linha Verde indo em direção ao meu local de trabalho resolvi escrever e compartilhar esse reflexão.

Pois bem, assim com você, além da dura rotina operária que temos em comum, particularmente sou estudante e pai de uma menininha de um ano e cinco meses que clama por minha atenção e carinho todos os dias quando chego da correria, de modo que me resta pouco tempo na semana pra fazer algo que tenho como dia santo: Visitar minha mãe e de lá só sair depois de abraça-la, cheirar seu cangote, ouvir contar as mesmas histórias e, como um fiel devoto que deposita seu dízimo antes de ir embora, deixo em cima da mesa uma grana suficiente pra pagar pelo menos dois boletos de suas continhas mensais.

Ocorre que numa dessas visitas aproveitei o sabadão e levei minha velhinha pra um rolê no shopping. Enquanto andavamos abraçei-a, dei aquele afago nos seus ombros o que de pronto notei um tumor na espessura de uma laranja no alto das costas. Tomei o maior susto, questionei se nunca tinha percebido aquilo, como não doía disse que jamais notou. Preocupado já levamos para exames e logo após marca-se a cirurgia, graças a Deus o tumor não era agressivo e como foi notado e tratado no início, a saúde de minha mãe foi protegida de um agrevisso ciclo evolutivo desse tumores silenciosos.

Passado o susto me pego refletindo o quanto o afeto e suas manifestações expressos no ouvir o outro; no beijar ; nos abraços sinceros e afetuosos são tão essenciais para prevenção e cura de males expostos tanto no corpo como na alma. Agora mesmo, bem na minha frente a tv do metrô alerta sobre a conscientização do Setembro Amarelo, e um dado super alarmante chama atenção, suicídio mata mais que o câncer e vítimas de guerra. Não seria a falta de afeto o disparo inicial para esse dado tão catastrofico dos nosso dias? Que nessa louca rotina diária, possamos mais que abraços e apertos de mãos, elevar nossos afetos a ponto que atinja não só a epiderme das pessoas, mas sobretudo seus corações

Jazi Nask
Enviado por Jazi Nask em 26/09/2019
Reeditado em 26/09/2019
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