VERDADES VERÍSSIMAS

ÉRICO VERÍSSIMO (1905/1976) nasceu em Cruz Alta, RS, filho de família tradicional arruinada economicamente; incrível, mas consta que não terminou o curso ginasial... Exerceu várias atividades profissionais, como ajudante de comércio, bancário, balconista de farmácia e desenhista na imprensa gaúcha em Porto Alegre, onde secretariou a Revista do Globo. Foi tradutor e ficcionista. Viveu no States, onde realizou várias conferências e foi professor de Literatura Brasileira. ----- Num primeiro momento contou /segunda fase da ficção modernista brasileira/ em romance urbano contemporâneo a luta de personagens na cidade moderna, miséria dos pobres em contraste com os grandes ricos, anseio de fugir ao anonimato e enriquecer, meio termo entre crítica de costumes e notação intimista: romances "Clarissa", 1933, retrato de uma adolescente; "Caminhos cruzados", 1935; "Música ao longe", 1935, Clarissa adulta; "Um lugar ao sol", 1938; "Olhai os lírios do campo", 1938; e "O resto é silêncio"m 1943. ----- Num segundo momento contou em painel cíclico a história do Rio Grande do Sul, estórias da saga da pequena burguesia, famílias Amaral, Terra e Cambará: "O tempo e o vento" - trilogia com "O continente", 1949, "O retrato", 1951, e "O arquipélago", 1961. ----- Num terceiro momento, autor critica a vida do século XX: "O senhor embaixador", romance político internacional, 1965; "O prisioneiro", 1967; e "Incidente em Antares", temática do fantástico e do sobrenatural, o chamado Realismo Fantástico, 1971. ----- Também: literatura infantil, "As aventuras do avião vermelho", 1936; "Os três porquinhos pobres", 1936; "As aventuras de Tibicuera", 1937; "O urso com música na barriga", 1938; e "A vida do elefante Basílio", 1939 --- conto e novela, "Fantoches", 1932; e "Noite", 1954 --- viagens, "Gato preto em campo de neve", 1941; "A volta do gato preto", 1947; e "México - história duma viagem", 1957 ----- autobiografia, "Solo de clarineta" I, 1973, e II, 1976 (este em publicação póstuma), memórias e reflexões sobre sua obra ficcional: influências, infância, viagens, política, literatura.

OLHAI OS LÍRIOS DO CAMPO - Título baseado num trecho do episódio bíblico Sermão da Montanha - telenovela, 1980 - dois planos narrativos, presente e passado, em desenvolvimento paralelo. Enredo: Porto Alegre, em meio à crise política nacional da década de 30, doutor Eugênio Fontes, origem pobre, médico recém-formado a custa de muito sacrifício, homem dividido em quase todos os níveis do comportamento humano. Apaixona-se por colega de faculdade, Olívia, que o compreende e ajuda a superar crises existenciais, porém casa com uma jovem da alta sociedade, abandona a medicina e vai trabalhar na fábrica do sogro, meio social onde o dinheiro é o valor supremo. Angustiado, reencontra Olívia que logo morre, deixando-lhe uma filha e um grande vazio.

INCIDENTE EM ANTARES - Minissérie, 1994. Enredo: acontecimentos reais e irreais, em tremenda crítica social.; dezembro/1963, união de duas facções políticas ante a greve dita "comunista" (?), coveiros reivindicando direitos + sete defuntos insepultos em Antares, sem punição de represálias carnais, adquirem vida e saem vasculhando intimidade de parentes e amigos, revelando uma sociedade podre. Sete? Sim. A matriarca da cidade, o sapateiro anarquista, um influente advogado, um jovem pacifista torturado e morto pela polícia, um bêbado envenenado pela mulher, um genial depressivo pianista que se suicidou e prostituta tuberculosa não atendida a tempo pelos médicos.

ENTREVISTA SEM O ENTREVISTADO - Qual o papel do escritor? "O menos que ele pode fazer numa época de atrocidades e injustiças, é acender a sua lâmpada, a despeito de náusea e horror, fazer luz sobre a realidade de seu mundo, evitando-o em escuridão. propícia a ladrões, assassinos e tiranos. Sem lâmpada elétrica, usar toco de vela ou fósforos repetidos." --- Sua primeira leitura? "Quando começou a arrefecer o entusiasmo pelo Tico-Tico, lembro de interessante narrativa sobre caçadas, muitas páginas e nenhuma ilustração." --- É bom ser uma pessoa famosa? "Ser conhecido, lido e fazer amigos me é muito agradável - há algo mais triste que a solidão e o anonimato? Mas é muito desagradável e absurdo o escritor ser tratado mais como um assunto ou notícia do que como um ser humano." --- Qual sua reação ao terminar um livro? "Em geral, confusão de sentimentos: misto de alegria pela missão cumprida, alívio e uma vaga tristeza como o ato de amor físico satisfeita a carne. 'Não era bem isto que eu queria fazer' - pensamento na releitura, mais tarde..."

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FONTES:

Recortes variados de livros didáticos (montagem, colagem).

(Segue.)