QUESTÃO DE LUCIDEZ
Ysolda Cabral 



De onde estou não escuto o murmúrio das ondas do Mar e a Brisa, mãe do Vento, me visita de passagem a caminho do lado de lá, em noites frias e de luar. Quanto ao canto dos passarinhos, aquele canto alegre que me acordava todas as manhãs, não escuto mais.

O silêncio do amanhecer é quebrado pelo choramingo dos pássaros aprisionados em gaiolas nas áreas de serviços dos vizinhos e alguns latidos de cães guardas incomodados por algum ruído, talvez dos carros que passam pela avenida com destino incerto.

A Luz do Sol é bloqueada por paredes de alvenaria nas primeiras horas do dia. Sinto-me só mais que nunca, apesar da companhia de pessoas queridas que já não me querem tanto bem – falhas minhas... 

Contudo, ainda resta minha bela extensão que entende o meu  jeito desencontrado, controverso e inexplicável de ser, e segue  me amando, incondicionalmente, navegando por mares que jamais navegarei. – Sinto-me tão distante de mim!

Sei que até eu posso dizer que estou triste, mas não é questão de tristeza! É a lucidez que hoje resolveu tomar conta de mim, mesmo sabendo que me prefiro louca, em devaneios e risadas sem razão, do que essa coisa que me prende os pés no chão e faz minha cabeça ter apenas tinta nos cabelos brancos.

 
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Apenas Ysolda
Uma pessoa que chora e ri de alegria,
tristeza, ou saudade sem pudor.
www.ysoldacabral.blogspot.com/

* Imagem Google