Toda banda tem uma cara babaca
Na minha experiência como músico, violonista, baixista e tecladista, um aspecto que percebi nas diversas bandas em que toquei é que o relacionamento entre os integrantes muitas vezes é conturbado – há divergências de opiniões, de estilos musicais, estrelismo exarcebado, exibicionismo tolo e infantil, delírio de grandeza, etc...
Minha primeira banda não durou muito, era bem amadora, com músicos mais humildes, aprendizes, enfim: a gente não sabia tocar direito. O único problema que tivemos foi com um baixista que achava que éramos predestinados, e iríamos fazer um sucesso estrondoso, que a gente não estava ali por acaso, que íamos tocar no Rock in Rio, ganharíamos muito dinheiro. Tivemos que tirá-lo da banda face as suas constantes internações e problemas com drogas.
Na segunda havia um guitarrista que só aparecia no estúdio em duas hipóteses: uma, se houvesse gravação; segunda, se houvesse show! No mais ele não dava as caras. Perguntei certa vez à líder da banda por que não o substituía. Ela respondeu que não poderia fazer isso porque gostava dele! – outra babaca!
Na terceira, havia um guitarrista que tinha medo de palco. Sempre que aparecia show, ele recusava alegando que nós ainda não estávamos preparados. Certo dia, um dono de um bar de rock nos convidou para tocar no seu espaço. O maldito se recusou. Certa vez ele me confessou que não gostava de tocar na frente dos outros. Assim não dava pra banda decolar.
Na Quarta banda tivemos um baterista palhação - o único motivo de ele estar ali ensaiando era o fato de poder encher o saco dos demais! Era demasiadamente sacana, adorava zombar de todos e colocar apelidos. Saiu da banda, inventando a desculpa de que estaria atarefado em uma mudança que sempre era adiada pra semana seguinte... E assim ficamos sem baterista. Graças a Deus.
A Quinta banda, na verdade um conjunto de samba, também tinha um babaca: um cantor que além de liderar o conjunto, exigia a presença de um produtor e arranjador pelo menos uma vez por semana para nos auxiliar. A iniciativa era boa, mas tínhamos que ficar pagando o cara toda vez que ele vinha! Só que o conjunto não fazia sucesso, não recebia convites, até que um dia uma cantora mais experiente me confessou: Olha, o conjunto é bom, mas o vocal é muito fraco, esse cara canta muito mal!
Por fim, na última banda, havia um guitarrista extremamente rude, corpo grande, cabeça pequena, de poucas palavras e que raramente sorria. Entrou pra substituir um cara que quase não ia aos ensaios (babaquinha). Já no primeiro show, o brutamontes quase bateu no operador de som por conta de um estalo em seu amplificador de guitarra. Não era de aceitar minhas ideias e morria de raiva quando opinava em excluir as músicas nas quais ele tocava mal. Enfim, me achava um babaca!