Carta ao destinatário ausente

Não me recordo de um afeto teu em minha infância; não me lembro do teu amor sendo dirigido para mim, das tuas palavras que deveriam ser doces e firmes, tampouco do teu colo que, naturalmente, deveria ser protetor.

Tu me disseste tantas vezes que não queria que me levassem embora quando criança, que chorou e se sentiu vazio dentro de uma casa também vazia. Então, faz-me entender: por que tu me deixas ir tantas vezes, agora?

O nosso amor está tão desgastado, que é raro uma atitude ou palavra tua não me atravessarem a alma. Talvez eu também tenha te magoado, mas tu deverias ser mais sensato, por experiência, do que eu. Ah! Como a nossa ignorância nos tornam pequenos.

Compreenda que os filhos são seres pensantes, com opiniões e posicionamentos, não são soldamos que marcham de acordo com as ordens do capitão. As respostas nunca serão automáticas, jamais serão na sequência do sim e do não. Sei das tuas limitações, inseguranças e medos. Porém, é uma pena que vivamos do avesso, pois tu que deverias ser o meu abrigo, constantemente está abrindo buracos em meu peito.

Eu não finjo amor por ti, não faz parte do meu ser à superficialidade. Assim, também espero, que o teu não seja fingido, até porque parece tão pouco que o teu fingimento seria inútil.

Que um dia, esse sol de inverno se vá, levando consigo tanta indiferença. Sejamos ao menos cordiais enquanto o sentimento profundo não se nutre. Infelizmente, a ferida depois de aberta, mesmo que cicatrizada, continua marcada.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 22/09/2019
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