NUNCA MAIS.
O profundo silêncio na manhã de domingo...
O silêncio e nada mais...
Nada parece importar, enquanto todos se tornam ausentes.
Apenas o frio soprando por debaixo das portas, nas frestas das janelas, em todo lugar.
Eu também sou inconstante…
E de repente, me vejo sem lugar...
Talvez seja o abismo me corroendo por dentro, o tempo todo e todo o tempo.
O Silêncio profundo continua em seu mergulho no oceano de palavras que nunca foram ditas.
O beijo quente que nunca aconteceu.
O perfume suave.
O toque...
A vida tornou-se o palco de mentes fantasiosas e sombrias.
E a fantasia por sua vez, fez da mente o seu palco de teatro.
É domingo...
Silêncio...
Nada podemos dizer, entretanto, no palco da imaginação tudo podemos fazer.
O café está pronto.
Derramo um pouco em minha xícara, o vapor da fumaça subindo, o cheiro suave e gostoso.
Bolachas, pães, pizzas do dia anterior, degustar o café, quente, saboroso, pão com margarina.
Talvez seja o destino. Mas afinal, existe mesmo o destino?
Seria ele o responsável por criar tudo a seu bel prazer?
Às vezes penso que, somos nós os sabotadores do tempo e da vida. Tantas nas lutas quanto nas derrotas acumuladas, são nossos montantes de fracasso ao longo dos anos.
O profundo silêncio na manhã de domingo...
Alguns pássaros cantam do lado de fora, a natureza festeja.
Os homens choram.
Somos o que desejamos ser, mas, àquilo que desejamos ser não corresponde com o quê de fato deveríamos nos tornar. Somos sucessivos erros e tentativas, até que a haja um ponto certo na imensidão das nossas falhas.
Livra-nos ó Deus, livra-nos de nossos eus.
É domingo, finalmente…
É silêncio, momentâneo...
Me sirvo de café pela segunda vez enquanto escrevo, a fumaça bailarina sobe rodopiano, o cheiro gostoso do café invade as narinas. Sentado em uma cadeira, estico as pernas para alcançar a outra, 'é minha posição preferida', sigo na incessante busca de qualquer coisa que alegre o coração, e que também diminua a dor da alma.
Não é dia de folga..
Portanto, angústia seguida de ansiedade e consequentemente, nova angústia, uma vez que, 'minha ansiedade', 'antecipadamente', me faz triste, menor a cada dia.
Não desejo me alongar caríssimos leitores…
O muito falar causa enfado.
Ainda está silêncio… Ah, que pequeno paraíso terrestre, pena que, daqui a pouco, será maculado com o som de uma cidade que acorda.
Com pressa…
Vamos, andem…
Estou atrasado…
Buzina pra ele, vai…
Sai da frente…
É a cidade despertando, os vizinhos brigando, assim continua o movimento de cada dia. Quisera eu as glórias passadas, meus dias de infância na fazenda 'Lindoya', em cima do pé de jambo, o tempo… Ah, o tempo não volta mais caríssimos, nunca mais.
Contudo,
O meu tempo nunca mais será logo ali na próxima esquina, ou em qualquer outra ,aliás, quem sabe, se dessa vez o destino não me valer, meu silêncio se tornará profundo e eterno.