Intriga de Crianças
Não vou esquecer os primeiros meses de 2018, estava de férias no sitio como de costume, e o Brasil..., bem, esse estava ingovernável diante de tantos atos de corrupção, e pior ninguém ia preso. O legislativo estava tal qual Pôncio Pilatos, lavando as mãos à soltura de Barrabas. O que se ouvia em todos os lugares, era a palavra corrupto e seus derivados, de forma que até os mais leigos, agora, já se apropriaram do léxico. Às vezes, ainda vinha acompanhada de outros adjetivos como: safado ou ladrão, tinha até aqueles que ousavam ir mais longe no uso de alguns outros atributos, que desconfio, nem saberem o real significado, mas proclamavam com a boca cheia: indigno, salafrários e conspiradores, manipuladores, tosco, insolente e aí por diante. Confesso que esse último foi o que mais gostei e acredito que se esforçaram muito tentando inovar o cabedal de palavras, mesmo ignorando a sinonímia delas. Creio que houve grande avanço nos xingamentos, uma vez que no Brasil, aqueles chulos conforme se conhece perdeu o sentido, pois ouve-se em todo lugar, em qualquer situação, que xingar perdeu o sentido, desgastaram-se de tal forma que ficou banal. Contudo, esse episódio que guardo em minha mente, esse sim, foi inovador. Voltando às minhas férias, estava deitado na rede de uma varanda, lendo, creio que não por acaso, obras e vidas de Gregório de Matos Guerra, buscando elementos que enriquecessem meu conhecimento literário, quando, meio aquela calma de vida rural, onde um galo, um pássaro ou as vezes uma risada é o suficiente para romper com o silêncio e lembrar-me que não estava sozinho. Meus sobrinhos, não poucos, estavam ali ao lado, num silêncio quase absoluto, sentados sobre um tecido lançado num gramado, de forma a garantir o conforto daqueles pequeninos, não mais do que três ou quadro metros de distância da minha confortável rede, na qual me relaxava. Espiando-os de quando em quando, não faltou muito, para aquele silêncio ser rompido, duas daquelas crianças, uma de cinco e outra de seis anos, estavam disputando meio a tantas peças de lego uma bomba de gasolina, miniatura, com emblema da shell e tudo, achei estranho brigarem por aquele objeto tão insignificante, olhei para eles fechei a sobrancelha e o silêncio voltou. Ou melhor voltara por alguns minutos. De repente, estavam novamente se estranhando, agora, quase que se agarrando, aquele posto de gasolina parecia ser a única peça ali. Foi quando me deparei com o mais novo xingamento. Um olhou para o outro e disse: _ você está me roubando, me devolva! Sua Dilma. Imediatamente parei de ler e comecei a espiar aquela situação embaraçosa, e que ao mesmo tempo começava a ficar hilária, ambas se levantaram daquele gramado olhavam como inimigas, e começaram os palavrões mais esquisito que eu já havia presenciado: _ Sua Dilma, devolva meu posto, é meu, quero meu posto, você está me roubando! Não deu tempo de intervir naquela conversa quando a ofendida começou a chorar e espernear como se tivesse ouvido o pior dos palavrões, gritava, berrava; quando achei que ia ficar só naquele escândalo, ouvi uma resposta que quase cai da rede, eu já não espiava mais, agora estava de olhos estatelados diante daquela intriga política, meio àquele escândalo e lágrimas a ofendida respondeu: Eu Não sou Dilma, e se eu for, você é Tucano. Desmoronei-me, Crianças de cinco e seis anos! Ambas começaram a chorar e chamar por suas mães; mas quando digo chorar, era o choro mais sentido que já tinha visto e eles gritavam meio as lágrimas – Ela me xingou de Tucano. Imediatamente ouvia-se: _ porque ele me xingou de Dilma, e não sou a Dilma! Não sou ladrona! E assim foi aquela desavença partidária. Nunca poderia imaginar que presenciaria tal fato, a calmaria chegou junto a um chinelo, nem Dilma nem Tucano, o posto foi confiscado pela mãe, a ordem estava posta, diante do silêncio agora resgatado, ainda se ouvia resmungo, entre os dois que voltaram a brincar. E eu, sem poder gargalhar diante da situação, segurava-me num profundo esforço misturado a admiração e indignação, pasmo por aquelas duas miniaturas de gente tomar a atenção num neologismo que até O Boca do inferno admiraria.