TEMPO DE PRIMAVERA

Como é bom sair a passear pela minha cidade em tempo de primavera! Pela manhã, ao sol, então!... As cores tornam-se ainda mais vivas e seu recado à alma fala muito mais alto.

Nesta manhã, por exemplo, saí a caminhar despretensiosamente. O sol brando e o dia esplendoroso convidaram-me e não pude resistir. Pelas ruas em que fui passando, todos os tons cumprimentavam-me. Uma das espécies que me brindavam, estava mais colorida ainda - as sibipurunas! Delicadas e acolhedoras como os ipês, a paineira rosa..., espalharam sua cor dourada em suaves tapetes, que neste tempo dão-nos a pisar! A mim, chamaram tanto a atenção, que não saberia dizer o que era mais cativante: se as copas, se o chão!

Tentando pisar mansamente para retribuir a gentileza, segui andando...

Um pouquinho mais à frente, num jardim bem cuidado, um canteiro de azaleias encantou-me! Que presente para os olhos e para o coração! As flores, bem abertas, espargiam tons de rosa com muita suavidade. Parei. Admirei na totalidade o espetáculo. Sorvi toda beleza exposta. As abelhinhas que lhes roubavam o néctar, enriqueciam o quadro, fazendo-o mais lindo ainda! A mão da natureza revestida pela mão de Deus produz cenários indescritíveis! Por um tempo estive ali parada, alheia às pessoas e veículos que passavam por mim. E a alguém deve ter causado estranheza o meu alheiamento total. Não importa. O "belo" raptara-me.

Segui andando um pouco mais. Vi hibiscos de tons variados, encontrei roseiras carregadas com a suavidade de encantadores matizes. Observei margaridas abundantes e bem juntas, deslumbrando-me com a alvura de suas delicadas pétalas. Vislumbrei espatódias copadas, farta e ricamente revestidas de laranja forte; quaresmeiras abertas em flores das mais variadas tonalidades; acácias imperiais exibindo seus cachos dourados; murtas vestidas mais de branco que de verde, brindando-nos, além dos olhos, também o olfato, com seu delicado perfume; lírios brancos de tamanha beleza e singeleza, que me lembrei do que Jesus disse um dia, ao mirá-los: "Nem Salomão com toda sua riqueza se vestiu como eles"... E o verde dos gramados, dos pingos-de-ouro, das palmeiras com suas palmas assanhadas pelo vento e outras árvores que nem sei o nome!...

A beleza que se colocava ao meu dispor era tamanha e tão "ladra" dos meus sentimentos e atenção, que só a custo percebi que o sol já não era mais tão brando. O tempo passara. Era preciso retornar a casa. E no retorno, aí sim, ligada às realidades do dia, acolhendo e dando cumprimento às pessoas que comigo cruzavam, pude refletir. Como é linda minha cidade na primavera! Como Deus é pródigo em Seus favores para o homem! E é pena, a certeza de que muitos só enxergam, mas não os veem. Vivem correndo, mergulhados em seus problemas, aflições, angústias, interesses pessoais..., sem se darem conta de que a natureza nos traz a mensagem do Céu - o Pai é providente e, como Ele veste majestosamente as flores que me roubaram o sentido, também providencia, aos que confiam, Sua bondade suprema.