Buzz e o autoconhecimento

Buzz Lightear é o brinquedo mais legal de 1995. Chega em uma caixa de presente no quarto do Andy e é recebido por uma multidão de outros brinquedos, vivos e curiosos. Buzz sai de "sua nave" e se apresenta como um "patrulheiro espacial". Isso irrita o já irritável xerife Woody, pois sabe que ele não é um ser humano. Passa uns dias neste "planeta estranho". Acaba em apuros... pra quem já viu Toy Story umas cinco vezes, no mínimo, sabe como continua. O ponto crucial para o Buzz é quando tenta voar e cai de cara no chão, dentro da casa do malvado Sid. Buzz descobre o que não é, um patrulheiro da espécie humana. Fica deprê por um tempo e chega a flertar com o travestismo, performando como Tia Marocas. Tudo o que acreditava sobre si era uma ilusão. Se viu na televisão, sendo anunciado como um brinquedo. O autoconhecimento pode ser doloroso. O mundo tá superpovoado por Buzzes. Por gente que pensa que é uma coisa mas é outra. Que nunca sentiu a necessidade de se autoconhecer. O que preconceitos e outras impressões subjetivas lhes dizem já é o suficiente. Tá cheio de patrulheiros achando que podem voar mas só sabem cair com estilo. Não adianta se dizer sábio, filósofo, que busca pelo conhecimento, se é negligente com o próprio autoconhecimento, um dos mais importantes. Se tá muito distorcida a compreensão que tem de si, isso é muito provável de contaminar o resto dos seus pensamentos e conclusões. Buzz construiu toda uma falsificação de sua própria vida. Percebam que ele chegou novinho em folha, virgem de reflexões, de vivências, da fábrica, da prateleira da loja, até ao quarto do Andy. Tem muita mente que é virgem de atritos, de contestações, de ser contrariada, de autoconhecimento. É o falso virtuoso que age de um jeito diferente do que prega ou que relativiza a moralidade, sendo tendencioso e injusto. É o médico que, na verdade, usa jaleco branco pra ganhar dinheiro e sinalizar status social. É o artista de mercado que usa a arte pra enriquecer e ficar famosinho. É o cientista que usa a própria ciência como desculpa pra não ser ético... E talvez o pior de todos, o filósofo, de diploma ou de auto-vocação, que prega o oposto da sabedoria.