A procissão dos homens* (18/04/2019)
Meia-noite.
O andor desce os degraus da igreja da Conceição e segue pelas ruas da cidade de Patos, Paraíba, numa procissão inusitada. É inconfundível o ruído da matraca à frente da multidão de homens que se forma apressada, como se surgisse de todas as esquinas do mundo.
O atrito daqueles pés no chão de paralelepípedo emite, ao mesmo tempo, um som de marcha para o céu. O sarcófago é carregado nos ombros de concidadãos bucólicos, para que jamais seja enterrado na incredulidade terrena. E nas pedras mosaicadas que se estendem doravante, a comunhão com o altíssimo.
Às portas das casas, mulheres contemplam a demonstração de reverência daqueles que suportam o tempo embrutecidos pela vida. Com o passar do séquito elas voltam para dentro de si mesmas. E na vigília pedem para que a alma de seus companheiros regresse menos atribulada.
O recebimento do corpo Santo se dá na igreja Matriz de Nossa Senhora Daguia. "Bem-aventurados os que peregrinam em plena madrugada, como testemunhas da tradição monástica". E todos os fiéis respondem à homilia num uníssono coro de mil vozes:
Amém!
Assim é a procissão dos homens: um momento para refletir sobre o sacrifício de Cristo; a iniciação dos filhos varões pelos caminhos retos; o beijo à modelagem/imagem que representa absolvição de todas as maldades... - Antes de debandarem de vez, cônscios de que aquele calvário foi a renovação da fé e não um percurso ordinário de obediência aos costumes.