A "Tentação" do Velho Joca

O velho Joca tinha chegado do seu sítio, que ficava lá no interior do Estado e estava passando uma semana na casa da sua filha Laura, que morava no Brás.

E foi já no final da tarde de um sábado, que ele quase foi à loucura quando o seu neto; jovem Tiago, o levou para dar uma voltinha lá pelas bandas da Rua Augusta...

Ele estava viúvo já faziam mais de trinta anos e agora, aos oitenta e três, gostava de dizer para quem quizesse ouvir que ainda tinha 'muita lenha prá queimar'. Foi por causa disso que o Tiago resolveu levar ele até lá para conhecer as 'meninas'...

É claro que ele ficou radiante; tanto que assim que chegou lá, foi logo engrenando uma conversa tão animada com uma moreninha de cabelos azulados, que parecia até um garotão se preparando para a sua grande 'batalha'. Logo depois ele fez um sinal para o seu neto, que assistia a tudo de uma certa distância, pedindo que se aproximasse. Então ele falou baixinho em seu ouvido:

-Será que você pode me adiantar uns 'cinquenta paus' para eu inteirar com o que eu tenho, para poder 'brincar' um pouquinho com essa musa? O seu neto; com um leve sorriso e já metendo a mão no bolso, ainda disse:

-O senhor não perguntou se ela aceita cartão? E os dois sorriram, enquanto que o Velho Joca meneava a cabeça, como se dissesse que não. E depois de ter completado o valor que havia combinado com a 'menina', ele dispensou o seu neto dizendo que depois do encontro chamaria um 'uber' para voltar para a casa.

Depois de ter se despedido do seu avô o Tiago ainda deu uma passadinha na casa de um amigo, para combinar com ele uma carona em seu carro, para que no dia seguinte pudessem levar também o seu avô para assistir o jogo do Corinthians, já que ele era um corintiano fanático. Ainda trocaram umas idéias, combinando tudo para o dia seguinte, sendo que logo em seguida ele foi para sua casa.

Mas qual não foi a sua surprêsa quando viu, tranquilamente sentado todo à vontade; de bermuda e camiseta, sentado diante da TV com um copo de suco de maracujá em uma das mãos, devorando um sanduíche de mortadela na outra; o seu avô...

-Ué! O senhor por aqui? Foi a primeira coisa que ele disse. E com a maior tranquilidade do mundo o Velho Joca, entre uma mordida e outra, lhe contou tudo o que tinha acontecido.

Disse ele que logo assim que se despedido dele, ele entrou com aquela 'menina' em uma enorme sala, que era toda espelhada e onde as garrafas de bebidas é que faziam parte da decoração. E completou:

-A Laurinha já deve ter lhe contado todo o sufoco que ela, quando criança, juntamente com a mãe dela; que era a sua falecida avó, passaram por causa das minhas constantes bebedeiras... Teve uma vez que eu cheguei em casa tão bêbado e fiquei tão irritado com a mãe dela, que quase matei as duas... Não gosto nem de pensar mais nisso. Então eu jurei para mim mesmo que nunca mais iria sequer olhar para uma garrafa de cachaça...

Agora imagine você; eu ali, todo prosa ao lado daquela gatinha que já estava toda fogosa, mas me vendo cercado por tudo quanto era lado de todas aquela garrafas de bebida? Era tentação demais para mim... Eu heim! Vá de Retro Satanás !

E os dois quase morreram de rir...