Seu Anthony

Nas minhas idas e vindas a minha querida cidade, Pinheiro, já vi de tudo um pouco. Hoje foi um dia muito especial:

- A estrada é a seta para encontrar o caminho até Jesus, leia a Bíblia! - disse seu Antônio, um senhor de quase 90 anos, já no final do meu trajeto Pinheiro-Santa Helena, no Maranhão.

Voltando às minhas idas e vindas do início desta crônica! Já tinha esperado algumas horas até que Cléber chegou ao carro para me levar de volta para a cidade onde trabalho. O tal carro vinha cheio, oito pessoas no total. Eu seria a nona. Fiquei um pouco estressado. Mal sabia eu que esse estresse seria atenuado ou mesmo evaporado pelas janelas do automóvel quando comecei a ouvir o senhor Antônio. Na verdade fui saber o seu nome já no fim da viagem, quando ele disse:

- Eu me chamo Antônio, em inglês Anthony.

Pé na estrada e a palestra se dá por iniciada. O simpático senhor fala de Jorge Amado e, de repente, me questiona se eu conheço Humberto de Campos. Eu balanço cabeça afirmando, mas sem saber de muita coisa a respeito, no que ele começa a declamar um lindo poema do escritor maranhense que não me recordo agora, porque não tenho uma memória tão incrível quanto a dele, mas que me tocou profundamente.

Depois de ter derramado tamanho lirismo, o nosso herói me levou direto pra o século XVII, quando os franceses chegaram, como disse ele, à ilha de Upaon-Açu, a grande ilha.

- Daniel de La Touche, Senhor de La Ravardiére, foi quem deu nome a cidade, quando, em 1612, chega, no dia 8 de setembro, a ilha de São Luís, dando início à construção do Fort Saint Louis, o nome foi “aportuguesado” e passou, ser chamado de São Luís. - disse em voz eloquente, o senhor Antônio.

Daí em diante, voltamos para o tempo em que homem pretendia chegar à lua. Então, ele falou, explicou e falou mais, citou Armstrong e deu mais um show de explicações e lições.

Ao chegar ao povoado de Queimadas, ele se lembrou de uma casa onde vendia mel.

- Eu já vendi "mé" naquela casa.

- É "mé" ou mel? - perguntou Cléber.

- Para o homem da roça eu digo "mé", para o estudado, mel!

Sem saber, o sábio senhor estava dando uma lição de adequação linguística e mostrando ser um falante competente, visto que ele sabia adaptar sua linguagem dependendo do contexto.

Assim, chegamos ao destino e eu fiquei pensando, me perguntando o que teria feito pela humanidade se esse homem tivesse continuado os estudos...

Diego Rasalas
Enviado por Diego Rasalas em 17/09/2019
Código do texto: T6747526
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2019. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.