- Manda um e-mail. Respondeu ela descendo do carro apressadamente. - Te amo! E já veio se justificando, como quem devesse uma resposta: - Temos tantas dificuldades em conversar que quando temos que resolver algo, preferimos o e-mail. Assim não dá tempo de aparecer o monstro da discórdia. Nossos egos são superfaturados. Ninguém ouve o outro. Sempre foi assim, desde a viagem até as contas diárias, as nossas DR’s são virtuais. Fiquei entre o real e o abstrato como quem segura a balança: que relação moderna, simples, mais ao mesmo tempo, distante, indiferente. Os amores andam vertendo seus campos para experiências inovadoras. Vai dizer que “comercializar” a relação amorosa não seja um tanto convidativo: - Responde o e-mail! Apesar de... Eu prefiro os arranca-rabos em tons pastéis. Fez-me lembrar uma cristaleira antiga de minha bisavó que era ponto de parada proibida para a criançada. Lá dentro tinha uma caixa bordada em ponto cruz: cartas para chorar. Tempos depois, pude lê-las, uma a uma. Era uma história de amor não vivida, impedida pela inveja da irmã, que escondia as correspondências, por nutrir sentimentos pelo mesmo homem. A comunicação foi cortada, por ego de terceiros. Entre os vários trechos, sempre choro ao reler: “Quisera eu, despedir dessa vida com a certeza de que os olhares que trocamos não eram um indício de amor; não me negues, mesmo em leito de morte, a dor da desilusão, se assim couber. Não há no mundo amor maior do que esse que guardo no coração enquanto espero o momento da entrega”. Prefiro as cartas de amor, mesmo que façam chorar, anos depois da morte dele e depois dela. Mas ela, antes contudo, descobriu as cartas.