Dignidade financeira - BVIW
A Bahia não é só o recanto de todos os Santos e encantos; tampouco impera a religião matriz africana, mas a fusão de diversas doutrinas, inclusive, de cunho cultural e filosófico. Além do turismo e fantasias, a vida real dos baianos passa por debaixo dos panos e das cartas. Digo isto, porque a freira, irmã Dulce (Maria Rita Lopes Pontes); conhecida internacionalmente como “o anjo bom da Bahia”, realizou diversas ações através das cartas. Nelas, o pedido de socorro, simplório, emocionava. Sempre retratando a condição de miséria que assolava o Nordeste pela seca, economia e conjuntura política-social. As cartas eram deixadas no balcão e suas intenções eram de acordo com o ramo de atividade. Não tinha como fechar os olhos e permanecer cego; suas palavras amoleceram até o coração mais cético. Os necessitados, por outro lado, escreviam pedindo ajuda; comida, abrigo e assistência médica. Os pedidos atravessaram fronteiras e romperam a barreira da língua. Até da Alemanha chegava mensagem. O intercâmbio de cartas salvou muitas vidas; alimentou famílias, abrigou órfãos, arrecadou receitas e fez de um galinheiro, um complexo de saúde, de referência na assistência à população carente. Antes de morrer, escreveu sua última carta, onde externou o desejo de continuidade da sua obra, sem cobrar dos moribundos, o que nunca tiveram, dignidade financeira.