A Espera invasora

A espera chega sem ser convidada e se instala sem pedir licença, feito invasora. Atrela-se ao destino das criaturas na alegria e na dor, na riqueza e na pobreza, na doença e na miséria. Não faz perguntas nem concessões e muito menos dá respostas a questionamentos. Faz do tempo e do silêncio um pacto pela vida. Não dá garantias e esquece de rever acordos.

É filha única da paciência e irmã da esperança. Namora o tempo sem compromisso, disposta a fazer valer a temperança. Segue a retilínea trajetória de sua incansável jornada, indiferente à dor alheia. Sem pressa, envereda-se pelos descaminhos do destino, passando pela fila dos desprivilegiados, dos solitários e dos excluídos. Sem titubear, segue altiva e serena na ordem cronológica do tempo.

A espera é invisível e efêmera qual nuvem passageira. Sabe que é longa a jornada, mas não tem pressa de chegar. É a mãe que espera nove meses pelo filho que vai nascer. O criminoso que aguarda a sentença, enquanto o condenado anseia pela liberdade. A espera demora a expiar sua culpa, envolvida em intermináveis reflexões. Diz ao jovem sonhador que não há colheita, sem antes plantar. É preciso esperar a semente germinar para sentir o sabor do fruto.

A espera tem plantão nas filas de desempregados, nas incertezas da previdência e do assistencialismo. De mãos dadas com a esperança, ambas caminham unidas para a longevidade. Conspira a favor dos desejos e sonhos na esteira do universo e avisa que não importa quão difícil seja a trajetória, ela sempre fará projeções. Mas quem faz acordos com a espera, ratifica o dito popular: quem espera sempre alcança.

Olha para a criança que brinca despreocupada, alheia ao futuro, e passa apressada pela juventude. Trava a batalha na luta de matar um leão por dia pela sobrevivência. Mas quando se encontra com a velhice, estabelece o confronto e descobre que a luta não foi em vão. Não há mais tempo para desperdiçar... indomável ela insiste: haja perseverança!

A espera é sozinha e como um pássaro voa no infinito. Vigia os enamorados que sonham com a esperança de um dia ficarem juntos para sempre. Só tem uma espera que não se justifica: a espera em vão. Não há nada mais injusto do que o telefonema que não vem; o encontro que é desencontro; o sonho irrealizável, as juras esquecidas, a doença incurável, a visita que desiste e a promessa que não se cumpre.