Vale a pena?

Permaneço inerte, sacrificando minha curiosidade de saber do que se passa ao meu redor. Tento me mexer, porém hesito e continuo intacto.

Digo a mim mesmo: “Não se cansa de ser você?"—“Canso sim”, respondo.

Mas quem me dera saber o quão bom é ter novas habilidades, novos estilos, nova vida sem a necessidade de ser outra pessoa.

Se eu pudesse sentir aquela lágrima queimando o meu rosto outra vez, ou aquele suor salgado enquanto me divertia com meus amigos em pleno sol da tarde.

Vejo agora, que tudo mudou. Que eu não sou mais o mesmo, mas nunca esqueci quem já fui.

Repentinamente engasgo com minhas palavras imperfeitas, arranco um sorriso do rosto, que tampouco representava meu estado emocional.

Através de um portal dos pensamentos, uma criatura atravessa afim de me pegar.

Tento correr para longe, porém ela sabe como me retardar. Eu encarei a criatura de frente, suspirando e gelado de medo. Algo no seu olhar me parecia familiar, era como se eu já estivesse preso lá. Em instantes, perco o controle do meu corpo, era como se já não me pertencesse mais.

Sou espancado pela criatura, sem poder me mover ou mesmo gritar, era como se minha voz me abandonasse para sempre. Sinto cada pedaço do meu corpo sendo tirado de mim. Meu sangue não passava de uma tinta vermelha que me classificava em tipo “A” positivo. Ao fim do serviço, aquela monstruosa face disse a mim: “Nada aqui foi por em vão, cada pedaço do seu corpo salvou mil vidas. Agora descanse eternamente enquanto essas pessoas destroem a si mesmas”.

Naquele instante meu orgulho se tornou angústia, minha insegurança se tornou minha única verdade e à criatura, servi minhas últimas palavras: “Conserve meu corpo com a resiliência absoluta, pois um dia irão precisar dos restos”.